Queria escrever sobre Synecdoche, New York, o filme de Charlie Kaufman que vi há pouco tempo, mas acho que não consigo. Gostei muito do filme, mas não sei bem porquê. É um filme triste sobre um indivíduo solitário, egocêntrico, feio, incapaz de cumprir o seu desígnio artístico. Não é, verdadeiramente, um artista, é um diletante que se esforça, até aos limites do possível e da depressão, para conseguir criar algo. Porém, nunca consegue. A sua vida é absolutamente infrutífera - de tal modo que, apesar de ter duas filhas, não tem com elas qualquer relação de amor ou proximidade. É um deserto estéril, sem relações humanas profundas que consigam medrar.
É um filme algo deprimente, portanto. Contudo, é também um filme doce, engraçado e inteligente, com um enredado de ficção dentro da ficção que nunca mais acaba e que delicia o espectador, ocupado que fica a tentar perceber aquilo tudo.
Os filmes escritos por Charlie Kaufman centram-se sempre na questão das fronteiras entre a realidade e a ficção e onde é que essas fronteiras se estabelecem. Este Sinédoque leva esta questão até ao limite e quase afirma que não há fronteira nenhuma, que a realidade e a ficção são, em última instância, a mesma coisa. É interessante pensar sobre isto porque, também no limite, a nossa vida é sempre uma ficção vivida pelas várias "personas" que criamos para representar esta ou aquela situação, uma sucessão de duplos de nós próprios que vamos criando a cada momento, para nos adaptarmos ao que nos é exigido pelo exterior. De modo que a nossa identidade não é mais do que isso, uma série de máscaras que nos convêm em contextos diferentes, e que, quando as retiramos, vemos que afinal não está lá nenhum rosto oculto, só mesmo a máscara.
Que bodega de post. Mas queria mesmo escrever sobre Sinédoque, Nova Iorque, e não consigo melhor que isto. O filme é superiormente e infinitamente melhor do que parece descrito por mim, prometo (e também é melhor do que o trailer, que deixo abaixo mas que não ilustra a qualidadezinha do filme).
(e dizer também que os actores são todos bons, bons, bons, competentíssimos Philip Seymour Hoffman e Samantha Morton, e os outros também vão nada mal)
Os filmes escritos por Charlie Kaufman centram-se sempre na questão das fronteiras entre a realidade e a ficção e onde é que essas fronteiras se estabelecem. Este Sinédoque leva esta questão até ao limite e quase afirma que não há fronteira nenhuma, que a realidade e a ficção são, em última instância, a mesma coisa. É interessante pensar sobre isto porque, também no limite, a nossa vida é sempre uma ficção vivida pelas várias "personas" que criamos para representar esta ou aquela situação, uma sucessão de duplos de nós próprios que vamos criando a cada momento, para nos adaptarmos ao que nos é exigido pelo exterior. De modo que a nossa identidade não é mais do que isso, uma série de máscaras que nos convêm em contextos diferentes, e que, quando as retiramos, vemos que afinal não está lá nenhum rosto oculto, só mesmo a máscara.
Que bodega de post. Mas queria mesmo escrever sobre Sinédoque, Nova Iorque, e não consigo melhor que isto. O filme é superiormente e infinitamente melhor do que parece descrito por mim, prometo (e também é melhor do que o trailer, que deixo abaixo mas que não ilustra a qualidadezinha do filme).
(e dizer também que os actores são todos bons, bons, bons, competentíssimos Philip Seymour Hoffman e Samantha Morton, e os outros também vão nada mal)
1 comentário:
Eu vi e adorei. E também adorei o post, principalmente a parte antes de "Que bodega de post" ;-)
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