quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

British Office vs American Office (alguns spoilers, poucochinhos)


Eu adoro, adoro, adoro, mas é que adoro, o Office. Estamos a falar do original e único Office britânico, com aquele génio do Ricky Gervais a fazer de David Brent, a personagem mais inesquecível que eu alguma vez vi em televisão por todas as más razões, o que a torna ainda mais inesquecível.
Durante muito tempo, achei que não valia a pena ver a versão americana, por razões várias. Primeiro, era impossível ser melhor do que o Office britânico. Segundo, era impossível alguém comparar-se a Ricky Gervais a fazer de David Brent. Terceiro, era impossível alguém comparar-se a Ricky Gervais a fazer de David Brent. Quarto, era impossível alguém comparar-se a Ricky Gervais a fazer de David Brent. Quinto, parecia-me também impossível recriar o humor cáustico, desconfortável, do Office, em que a pessoa sente tanta vergonha alheia que se quer enfiar num buraco. Sublime, mesmo.

Bom. Acontece que comecei a ver uns episódiozitos do Office americano aqui e ali, e comecei a gostar. O truque é a gente deixar de comparar, porque a versão americana, com o avançar das temporadas, deixou de ser de facto uma versão e ganhou autonomia e mérito próprios. É claro que o Office americano é uma sitcom americana, logo muito mais doce e mais fofinha do que o Office britânico, que era terrível no seu retrato da rotina cinzenta do escritório. Os americanos não resistem a tornar o escritório mais aprazivelzinho, e em geral todas as personagens são mais queridas, mais bonitas, mais fáceis de gostar do que na versão britânica (basta comparar o Jim e a Pam, lindos, com o Tim e a Dawn, normais). Passa-se exactamente a mesma coisa com o Shameless britânico e o americano, por exemplo, e sobre isso já escrevi, portanto não repetirei.
Há uma grande diferença entre David Brent e Michael Scott, o patrão americano, porque este último, por mais idiota que seja (e é bastante), é genuinamente afectuoso. De certa forma, gosta-se dele, ao passo que é impossível gostar de David Brent. Michael Scott também tem a vantagem de ser interpretado por Steve Carrell, que, independentemente das escolhas desastradas que por vezes faz em termos de filmes (excepção feita ao Virgem de Quarenta Anos, ao qual acho piada embora não queira achar piada, mas acho, porque tem piada), enfim, apesar de filmes menos bons, consegue ser quase perfeito. Mas não o queiramos comparar a David Brent, porque senão não resulta. David Brent foi muito mais longe do que qualquer espectador de sitcoms alguma vez poderia esperar, e Michael Scott fica, por comparação, a meio do caminho.
Mas não era propriamente sobre isto que eu queria falar, embora possa parecer que sim. Num determinado episódio do Office americano, a empresa de papel onde todos trabalham está a falir e é vendida a um monstrengo qualquer, uma nova empresa empenhadíssima no lucro e na produtividade e tal. Os empregados ficam a saber que, ao invés das 6 semanas de férias de que anteriormente gozavam, passam a ter apenas duas; é-lhes dado um termo com água para não andarem sempre a passear pelo escritório a caminho da máquina de água (aquelas que têm uns garrafões, não sei como se chamam); todos os sites "recreativos", como facebook, email pessoal, youtube, são bloqueados. 
Eu sei que algumas empresas fazem isto, de facto, e que já ninguém discute muito porque se tornou aceitável e legítimo que a empresa não pague aos trabalhadores para eles andarem no facebook. Por um lado, é legítimo. Por outro, é horroroso. Eu, por exemplo, nunca vou ao facebook no trabalho por vária ordem de razões, a saber, ponto um, a minha senha do wireless tem um problema que ninguém consegue resolver. É só por isto. Se trabalhasse num sítio em que a entidade patronal confiasse tão parcamente em mim ao ponto de me infantilizar (a menina não vai ao facebook antes de fazer o trabalho de casa), acho que me sentia, digamos que, mal. E foi isto que aconteceu às pessoas nesse episódio do Office, coitadas. Resmungaram imenso, mas ou aceitavam, ou iam para a rua.
Trabalhar para o cheque ao fim do mês custa muito, sinceramente. Não é um favor que façamos a alguém oito horas por dia. De modo que não vejo o problema de se ter acesso livre ao youtube, facebook e quejandos. Ou talvez seja apenas eu que estou mal habituada. Mas acho mesmo que não, que não estou. Pelo contrário.
Your teacher preaches class like you're some kinda jerk. Fight for your right to party. Cantam os Beastie Boys e canto eu.

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