Eu tento ver os Oscars todos os anos. Adormeço sempre, não sem antes me irritar com as escolhas da chamada "Academia", que escolhe sempre tudo ao contrário daquilo que eu acho. E há exemplos clássicos disso - o Citizen Kane não ganhou Oscar de Melhor Filme; o Crash ganhou ao Brokeback Mountain (! - esta foi das poucas vezes que fiquei até ao fim a ver e fiquei fora de mim); A Halle Berry e a Gwyneth Platrow também já ganharam Oscars (mais uma vez -!), e por aí fora.
Bom. É interessante pensar quem é, afinal, esta "Academia" e porque é que tanta gente, inclusive eu, presta tanta atenção às escolhas que faz. Descobri, por exemplo, que o Lorenzo Lamas faz parte da Academia e vota. Palavras para quê, não é (a propósito, confirmar artigo interessante aqui, que explica quem são afinal estes indivíduos da Academia. Uma massa multicultural e multiétnica, como se verifica).
No que me diz respeito, penso que ainda sigo os Oscars porque não resisto ao espectáculo de encher o olho que os americanos fazem na perfeição e que, fraca que sou, me cativa por completo. A passadeira vermelha, os vestidos, aqueles actores todos, uns de que gosto verdadeiramente, outros que apenas considero esteticamente aprazíveis e isso também é respeitável, e depois a excitação de abrir o envelope, and the Oscar goes to, e aquelas músicas todas épicas, e depois as pessoas choram e agradecem ao marido ou à mulher e é tão romântico, e pronto. É bonito. Enfim, gosto. Lembro-me de que uma vez a Whoopi Goldberg apresentou os Oscars e disse, no final, qualquer coisa como "estou a a falar para o menino que está a ver a cerimónia e a pensar "qualquer dia, uma daquelas estatuetas será minha". Depois fez uma pausa, apontou para a câmara e rematou "kid, you'd better believe it". Neste tipo de épica, não há quem suplante os americanos, de facto. E portanto tudo isto é um espectáculo que eu aprecio, além de também apreciar cinema americano. Já se sabe que não é o único cinema que existe, mas é evidente que consegue produzir coisas muito boas (a par de grandes porcarias, mas isso já se sabe).
O que já não aprecio tanto são as escolhas da tal "Academia" e o "hype" (brrrr, palavra feia) que criam em torno de certos filmes. Vou ser completamente injusta e começar pelo Artista - sou injusta porque não vi este filme até ao fim e não o vi no cinema. Um filme destes tem absolutamente de ser visto no cinema. Mas ignorando estes dois factores, o que vi do Artista não me seduziu assim muito. Tem imagens bonitas? Tem, mas quer dizer, os filmes mudos originais são mais bonitos (alguns, pelo menos). A história não me pareceu grande coisa (não vi até ao fim, repito), porque o excerto que vi me parecia uma narrativazita banal, tipo comédia romântica de Domingo à tarde. O actor principal também não me cativou. Estava a pensar num actor subtil e pareceu-me apenas exagerado, e a câmara obcecada em registar-lhe todos os sorrisos, todos os olhares descaradamente. Enfim, não gostei muito, e a não ser que tenha oportunidade de o ver como deve ser, no cinema, não me parece que vá tentar ver outra vez. Peço desculpa a quem gostou do filme, porque eu de facto não vi até ao fim. São comentários com base apenas no excerto que visionei.
Isto para dizer o quê? Que ainda a procissão vai no adro e já o Artista é dado como vencedor, e provavelmente será. É um exercício engraçado, não duvido, mas não é a salvaçao do cinema, "ai, não precisamos de filmes em 3D para apreciar cinema!". Não, realmente não. Também não sei é se precisamos do Artista, mas enfim.
E todo este post se justifica porque o filme que eu gostava de ver a arrasar completamente é este, e nem sequer foi nomeado:
Estilizado ao máximo, propositadamente estilizado, até, elegante, muito giro. Eu próprio sou vítima do tal "hype", que também não prejudicou este Drive. Não foi nomeado, mas tem já uma legião de seguidores.
No fundo, os Oscars são de facto uma celebração da festarola que um certo tipo de cinema é. Não há nada de mal nisso, especialmente quando filmes merecedores ganham Oscars. Também não há nada de necessariamente bom.
Mas enfim. Isto é só converseta. Amanhã lá estarei eu muito irritada a ver a "cerimónia".
6 comentários:
Gostei da escolha do Crash.
Não compreendo a ideia da crítica sem se ver o filme,refiro-me ao Artista...Só se devia opinar após a visualização do filme.E esta é a minha opinião.
E o Drive?Gostava que descrevesses o motivo de achares que é O filme que lá devia estar.
E que outros gostas?
Boa tarde, melhores cumprimentos.
Por nós dois existirmos é que o amarelo ainda é cor de carro.
Vi todos os filmes dos Oscar excepto The Tree of Life (que antes de ver já sabia que não ia gostar) e Extremely Loud & Incredibly Close (que me faltam umas legendas decentes).
Drive chamei um taxista amigo e paguei-lhe para mo guiar para casa de um vizinho que faz muito barulho a toda a hora.
Bye.
Do que se percebe da dona do blog acho que iria gostar e muito de Albert Nobbs.
Trust me, I'll be back.
eu não disse?, aquilo parece talhado à medida dos parolos de lisboa, que vão muito aos mac's e gostam de vacas .
Anónimo, concordo com a sua opinião (excepto na questão do Crash, de que de facto não apreciei). :)
Em relação ao Drive, gostei muito porque é tão propositadamente estilizado que resulta. É um filme tipo "heist", mas muito elegante,curiosamente, e com uma história engraçada, entusiasmante, com a violência própria deste tipo de filmes e muito estética, com actores competentes. A cena inicial do filme parece quase o GTA (jogado por alguém profissional, claro). Eu achei muito, muito giro. E em relação a outros filmes que deveriam ser contemplados nos Oscars, não tenho mais nenhum exemplo de 2011, mas tenho de anos anteriores, mais especificamente a Última Hora de Spike Lee, um filme absolutamente irrepreensível e que nem sequer foi nomeado.
Fado, não vi Albert Nobbs, mas a julgar pelo vestido de arrasar que a Glenn Close levou aos Oscars, acredito que seja muito bom. :) Esse do Extremely Loud... tem que se lhe diga - só li críticas péssimas. Já o viu, entretanto?
Simon, pois. :)
Obrigado pela resposta,tenho de ver alguns que mencionaste
Obrigado.
Ainda não, virei de agulha e vi o iraniano que ganhou o Oscar.
Uma única palavra - superlativo.
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