segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

O Dexter

O Dexter é uma série interessante. Gosto. E tem aquele actor espectacular, o Michael C. Hall; quem o viu nos Sete Palmos de Terra nem acredita, o homem é mesmo profissional.
Dexter conta com o aspecto engraçado de a personagem principal ser um assassino em série, mas com a particularidade de ter sido educado para dirigir o mal a quem o merece, por assim dizer. Também trabalha para a polícia, o que é outro aspecto original, além de desencadear o efeito Tony Soprano, que é a pessoa saber que a personagem principal faz parte do grupo dos "maus", mas não deixar de simpatizar com ela, gostar dela e querer que ela ganhe, deste modo reflectindo sobre a relatividade da vida, os valores do Bem e do Mal, e que nem sempre as coisas são o que parecem e assim e assado. No fundo, ver séries de televisão dá-nos muita filosofia.
Também há uma outra perspectiva sobre Dexter que discuti noutro dia com um amigo, que não gosta da série e já a deixou de ver. Disse-me ele que a acha reaccionária, demasiadamente impregnada de uma certa ideologia de direita americana com a qual ele não pode. Achei isto muito estranho - como, se o principal é um assassino, criminoso, completamente fora dos padrões da chamada decência? E diz-me o meu amigo que o problema da série é aquela ideia de que não faz mal matar alguém, e talvez possa ser até desejável, desde que essa pessoa o mereça. Quando apoiamos o Dexter e as suas decisões, apesar de ele andar por aí a matar outros assassinos, ou talvez por causa disso, apoiamos igualmente este poder individual, fora dos tribunais e da lei, sobre a vida e a morte. É uma outra forma de se concordar com a pena de morte, é como dizer "ah, eu não acho que deva existir pena de morte, mas acho que há gente que merece morrer e portanto não vejo problema nenhum se houver um Dexter por aí a matar escumalha".
Pois é. Não deixa de ser verdade. No entanto, é também verdade que a série não mostra a personagem principal como inocente, inteiramente justa e íntegra. Mostra um assassino que calha matar outros assassinos, mas que sabe que não é muito diferente deles - e também não é muito diferente de qualquer outra pessoa dita normal (foi casado, agora é viúvo, tem um bebé, um emprego estável, etc), residindo aqui o busílis da questão. Afinal, este Dexter é criminoso, é bonzinho, ou é os dois?
Conclusãozinha? Não há, para variar. Parece-me ser certo que concordar que há quem mereça morrer é a mesma coisa do que apoiar qualquer pena de morte, imposta ou não pelo Estado. Sempre fui contra a pena de morte e é das poucas coisas sobre as quais não quero mudar de ideias. Também não me parece que o Bem e o Mal sejam assim tão relativos como querem fazer crer - há coisas que estão bem e outras que estão mal. E porém - há muitas partes da vida mal iluminadas. Delas, não sabemos o que esperar porque, como já advertia Camões, esse deus terreno, "muda-se o ser, muda-se a confiança. Todo o Mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades".
E essas qualidades podem ser boas ou más, sabemos lá nós. É ir andando.

3 comentários:

mm disse...

Eh pá, não vale contar o fim. Eu só vejo na RTP2 e, nem ele ainda casou, eu já sei que vai ficar viúvo?...

(sigo o blogue e hoje comento)

De Dashiell Hammet a Vian, passando por Barra da Costa e Zé Gato disse...

o Castle é mais evocativo ( e por isso mesmo mais fractal) duma época em que literatura e polícia andavam mesmo de mãos dadas.

Rita F. disse...

Ó mm, realmente, que grande indelicadeza minha. Devia ter avisado que havia spoilers. Mas a série continua muito boa de ver, não é para desistir! Acontecem muitas outras coisas. :)

Dashiell Hammet et. al. - o Castle nunca vi. Ainda dá na TV?