terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Esterilidade

Tenho pensado no Heathcliff do Monte dos Vendavais.
A ideia não é minha, mas sim de um amigo com quem estava a falar - já se sabe que Heathcliff é terrível, maldoso, cruel, mas normalmente é descrito como um herói romântico e intenso que adora a sua Catherine.Na verdade, pode também ser visto como um cobarde, que nunca conseguiu verdadeiramente lutar pelo seu amor, nunca conseguiu superar um enorme complexo de inferioridade que evidentemente tem, e consome-se no ódio e rancor típico dos fracos cobardolas, que preferem deixar as Catherines casarem com os Lintons em vez de serem eles a fincar pé e a lutar verdadeiramente pelo que querem; também preferem enveredar por um caminho de vingança e amargura, recusando conforto e paz de espírito, só porque são pobrezinhos e ninguém gosta deles. Haja pachorra.
Eu dantes até gostava do Heathcliff, mas realmente agora tenho muitas dúvidas. É um birrento. Não me parece grande herói, nem anti-herói, e certamente não será o tal herói Lord Byron de que falam os livros (sem esquecer a wikipedia). O Lord Byron morreu na guerra, ao lado dos Gregos contra os Turcos. O Heathcliff era estéril em todos os sentidos e quando morreu não deixou nada, tal como em vida nunca foi nada. Tudo dito.
Há, estranhamente, pessoas assim, não é só nos livros.

2 comentários:

Inês Maçã disse...

Gosto do Monte dos Vendavais, mas prefiro Freud. Ironia ou não, não podia concordar mais contigo.

josépacheco disse...

A ideia é interessante. E, porventura, correctíssima. Mas não consigo concordar: o inconsciente (já que se falou em Freud) tem razões que a razão desconhece. O meu fascínio por Heathcliff é absolutamente imune a todas as desmontagens a que procedam.