De vez em quando, escrevo e penso sobre cabelos. É uma idiossincrasia um bocado inútil, mas enfim. As inutilidades também fazem parte da vida.
A minha amiga L., por exemplo, que de vez em quando também pensa sobre cabelos, tem muito a mania de se indagar sobre o que leva uma pessoa a manter um corte de cabelo nos moldes em que, por exemplo, o Luís Represas o faz. É que aquilo nunca, nunca, nunca muda. Por consequência, eu própria também me indago sobre esta problemática, porque é de uma verdadeira problemática que se trata - um cabelo que há anos e anos é sempre do mesmo comprimento, sempre com as mesmas pontas espetadas na nuca, sempre com a mesma franja, mais ou menos penteada. Ainda há uns dias levantei esta questão no facebook - será que, no seu esforço de manutenção da modesta gaforina, Luís Represas se dirige ao cabeleireiro ou ao barbeiro?, mas ninguém me soube responder, talvez porque esta questão encerra uma filosofia retorcida muito difícil de destrinçar. Houve quem aventurasse que era quiçá peruca, o que eu espero que não seja, porque senão desfaz-se a magia.
Mas bom. Continuando, esta problemática do cabelo do Luís Represas é muito mais rica do que à partida se possa pensar, e explico porquê - há pessoas que nunca mudam o cabelo de forma alguma, nem à chamada "lei da bala", como aqui o Luís; há outras que estão sempre a mudar corte, cor, caracóis e quejandos. E isto diz muito da nossa personalidade. Por exemplo, uma pessoa que desde a adolescência possua o mesmo cabelo, o que diz isto dela? Diz que é pouco aventureira,não gosta de arriscar. Uma pessoa que desde a adolescência cortou, deixou crescer, fez madeixas, pintou, frisou, "desfrisou", o que diz isto dela? Diz que é uma maria-vai-com-as-outras que quer ser igual às Christinas Aguileras do seu tempo. E que dizer de uma pessoa que apenas moderadamente modificou o seu cabelo? Diz que é uma pessoa íntegra, por exemplo. É como um homem que sempre se agarrou orgulhosamente ao seu bigode, ao invés do Torres Couto ou Mega Ferreira que, não conseguindo manter a coerência, decidiram cortá-lo (e até aposto que morrem de vergonhaça sempre que têm de se confrontar com fotos dos anos 80 ou isso, com a bigodaça tuga que hoje em dia é muito, vamos lá, "demodé", "passé", "feia").
É que o cabelo, tal como o bigode ou barba nos homens, encerra esta tal questão da coerência, mas também da capacidade de adaptação - ninguém quer um cabelo que não se adapta ao ar dos tempos, como o cabelo do Luís Represas; mas também ninguém quer pilosidades ou cabelos que mudam por dá cá aquela palha, como se a pessoa fosse uma oferecida que não pensa por si.
De modo que com pilosidades e penteados, assim como com personalidades, todo o cuidado é pouco. Sempre muita cautela.
4 comentários:
Não me diga que é uma Maria-vai-com-as-outras? É que já lhe conheci vários cortes e cores capilares...Desfrizamentos e caracóis, é verdade que não.
Eu própria já experimentei várias madeixas e nuances - até uma promissora assim ao estilo Susan Sontag - e vários escadeamentos, e a verdade é que não me revejo nada na Maria nem nas outras. Veja lá isso :P
i.
Ainda há pouco tempo me questionei sobre o mesmo assunto: cabelos. E olha que nem sou muito dada a este género de filosofias. Mas ouvi na Rádio o Armando Gama a cantar o "Esta balada que te dou" e o meu primeiro pensamento foi para o penteado dele, é sempre o mesmo há anos. Quer dizer, não sei o que é feito do senhor mas a última vez que o vi estava igual.
Eu nunca pintei o cabelo, frisei ou desfrisei. Mas já usei curto, pelos ombros e comprido. Com e sem franja. Escadeado e a direito. O que isso diz de mim? Serei íntegra ou uma Maria vai com as outras que não gosta muito de arricar?
Armando Gama, grande exemplo! :D
i., tem muita razão. Eu sou Maria vai com as outras, sim. Já experimentei tanta coisa neste cabelinho, ai, ai... suspiro. Mas ultimamnente tenho andado muito coerente. Concordará que sim.
Enviar um comentário