sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A etiqueta, quando nasce, é para todos

Há uns anos, li um artigo sobre prisões privadas no UK, que eu nem sabia que existiam - na altura, não sabia que existiam nos EUA, quanto mais no Reino Unido. Só o conceito foi suficiente para me arrepiar, mas continuando, estava eu a ler este artigo e dizia-se que os guardas prisionais tinham notado muita diferença no comportamento dos reclusos quando se dirigiam a eles aplicando as estratégias gerais do que normalmente consideramos "delicadeza" - tratavam-nos por "senhor", falavam-lhes com voz calma, nunca recorriam a insultos, enfim, adoptavam um comportamento linguístico em tudo equivalente àquele que adoptamos em sociedade, com pessoas que não estão presas. Os resultados, ao que parece, foram (tempo pretérito, porque o artigo data de 2001) os seguintes:

 "As soon as the cons get out of the van, they're greeted with a 'Good morning, Mr Smith, would you like to come this way?' They're reminded that they're people first and prisoners second. Their whole demeanour changes. They're polite in return to the staff, and each other!"

Mais recentemente, vi um gráfico engraçado sobre a história do metro de Londres, onde se diz que as agressões aos trabalhadores do metro diminuem consideravelmente quando se passa música clássica nas estações ou carruagem. Também encontrei um outro artigo engraçado que explica como programas musicais, em que os presos ouvem ópera, aprendem música, a cantar e a dançar, ameniza grandemente o seu comportamento agressivo e contribui, em geral, para uma melhor reabilitação.
Eu só acho que é uma pena que este tipo de experiências se apliquem apenas às prisões ou ao metro, e não sejam mais generalizadas. Eu, por exemplo, bem precisava de uma reabilitaçãozinha, porque o meu humor tem andado muito em baixo e qualquer dia ainda me leva ao crime.   Não me importava de trabalhar ao som de uma operazita, coisa que talvez me ajudasse. E que tal música clássica nas escolas, por exemplo? Tudo a dar aulas ao som da Flauta Mágica - de certeza que os resultados seriam notórios e benéficos. E, por exemplo, que tal obrigar as pessoas a falar sempre de forma calma e ponderada em público, evitar gritar asneiras em alto e bom som à frente de estranhos, e mesmo na fila de supermercado do Pingo Doce, com os carrinhos cheios de descontos a 50%, lembrarem-se de que são pessoas primeiro e compradores depois? Era giro.
Para rematar, que fique claro que não defendo prisões privadas (há casos de juízes subornados para atafulharem estas prisões de gente, condenando arguidos a torto e a direito - nojo); isto da delicadeza é mais complexo do que parece, e não podemos ignorar que, muitas vezes, a chamada "etiqueta" é convenientemente manipulada para restringir o acesso a determinadas falanges sociais (perguntem a um inglês como se comem ervilhas, ou se o leite se verte na chávena antes ou depois do chá, e logo percebem de que estou a falar). Há que levar tudo com uma pitada de sal, como dizem os mesmos ingleses.
E agora vou acabar, porque ando aqui às voltas há que tempos e não consigo escrever uma conclusão de jeito. Boa noite.

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