quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Isto é que são descrições realistas de filmes

O que tenho a dizer sobre os Oscars está aqui. Os meus filmes favoritos são:


Seguido de:


Sem esquecer este outro magnífico:


Ah, ah, ah, ah! O "Analyse Dat Ass" também vale muito a pena.
Um pequeno apontamento de humor. 

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Oscars - alguns comentários

Eu tento ver os Oscars todos os anos. Adormeço sempre, não sem antes me irritar com as escolhas da chamada "Academia", que escolhe sempre tudo ao contrário daquilo que eu acho. E há exemplos clássicos disso - o Citizen Kane não ganhou Oscar de Melhor Filme;  o Crash ganhou ao Brokeback Mountain (! - esta foi das poucas vezes que fiquei até ao fim a ver e fiquei fora de mim); A Halle Berry e a Gwyneth Platrow também já ganharam Oscars (mais uma vez -!), e por aí fora. 
Bom. É interessante pensar quem é, afinal, esta "Academia" e porque é que tanta gente, inclusive eu, presta tanta atenção às escolhas que faz. Descobri, por exemplo, que o Lorenzo Lamas faz parte da Academia e vota. Palavras para quê, não é (a propósito, confirmar artigo interessante aqui, que explica quem são afinal estes indivíduos da Academia. Uma massa multicultural e multiétnica, como se verifica).
No que me diz respeito, penso que ainda sigo os Oscars porque não resisto ao espectáculo de encher o olho que os americanos fazem na perfeição e que, fraca que sou, me cativa por completo. A passadeira vermelha, os vestidos, aqueles actores todos, uns de que gosto verdadeiramente, outros que apenas considero esteticamente aprazíveis e isso também é respeitável, e depois a excitação de abrir o envelope, and the Oscar goes to, e aquelas músicas todas épicas, e depois as pessoas choram e agradecem ao marido ou à mulher e é tão romântico, e pronto. É bonito. Enfim, gosto. Lembro-me de que uma vez a Whoopi Goldberg apresentou os Oscars e disse, no final, qualquer coisa como "estou a a falar para o menino que está a ver a cerimónia e a pensar "qualquer dia, uma daquelas estatuetas será minha". Depois fez uma pausa, apontou para a câmara e rematou "kid, you'd better believe it". Neste tipo de épica, não há quem suplante os americanos, de facto. E portanto tudo isto é um espectáculo que eu aprecio, além de também apreciar cinema americano. Já se sabe que não é o único cinema que existe, mas é evidente que consegue produzir coisas muito boas (a par de grandes porcarias, mas isso já se sabe).
O que já não aprecio tanto são as escolhas da tal "Academia" e o "hype" (brrrr, palavra feia) que criam em torno de certos filmes. Vou ser completamente injusta e começar pelo Artista - sou injusta porque não vi este filme até ao fim e não o vi no cinema. Um filme destes tem absolutamente de ser visto no cinema. Mas ignorando estes dois factores, o que vi do Artista não me seduziu assim muito. Tem imagens bonitas? Tem, mas quer dizer, os filmes mudos originais são mais bonitos (alguns, pelo menos). A história não me pareceu grande coisa (não vi até ao fim, repito), porque o excerto que vi me parecia uma narrativazita banal, tipo comédia romântica de Domingo à tarde. O actor principal também não me cativou. Estava a pensar num actor subtil e pareceu-me apenas exagerado, e a câmara obcecada em registar-lhe todos os sorrisos, todos os olhares descaradamente. Enfim, não gostei muito, e a não ser que tenha oportunidade de o ver como deve ser, no cinema, não me parece que vá tentar ver outra vez. Peço desculpa a quem gostou do filme, porque eu de facto não vi até ao fim. São comentários com base apenas no excerto que visionei. 
Isto para dizer o quê? Que ainda a procissão vai no adro e já o Artista é dado como vencedor, e provavelmente será. É um exercício engraçado, não duvido, mas não é a salvaçao do cinema, "ai, não precisamos de filmes em 3D para apreciar cinema!". Não, realmente não. Também não sei é se precisamos do Artista, mas enfim.
E todo este post se justifica porque o filme que eu gostava de ver a arrasar completamente é este, e nem sequer foi nomeado:



Estilizado ao máximo, propositadamente estilizado, até, elegante, muito giro. Eu próprio sou vítima do tal "hype", que também não prejudicou este Drive. Não foi nomeado, mas tem já uma legião de seguidores.
No fundo, os Oscars são de facto uma celebração da festarola que um certo tipo de cinema é. Não há nada de mal nisso, especialmente quando filmes merecedores ganham Oscars. Também não há nada de necessariamente bom. 
Mas enfim. Isto é só converseta. Amanhã lá estarei eu muito irritada a ver a "cerimónia".

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

As convenções de género do filme de terror estão cá todas

Este ano, já vi pelo menos um filme de terror daqueles tradicional:
- cenas de sadismo e tortura
 - objectificação do corpo humano, mormente rostos macilentos, nódoas negras, ossos a chocalhar, olhos cadavéricos e vazios
 - consequências sangrentas e massacrantes da gravidez não planeada, nomeadamente trabalhos de parto com cesarianas a sangue frio e sangue a rodos
- pormenores macabros como uma mulher grávida a beber sangue humano e a dizer "hmmmmmm", labendo os lábios, deliciada
- noite de núpcias com claras fantasias de violação
Um filme de terror série ZZZZZZZZ, portanto.




quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Esta é a ditosa Grécia, minha amada

Pode não ser ditosa, mas ainda é a Grécia.
E pode parecer um exagero, mas para mim não é - a Grécia foi sempre o meu país de contos de fadas, era um país que eu pensava que era inventado, uma fantasia, e depois descobri que era verdadeiro, que existia mesmo um Olimpo, um Delfos, um Corinto, uma Trácida, uma Creta, e pareceu-me bom demais para ser verdade, e sempre que tive a sorte de visitar a Grécia e via aquele sol, as montanhas, o mar, os ciprestes  tudo me parecia bom demais e bonito demais para ser verdade, até Atenas eu adoro, e as pessoas estão sempre a dizer que Atenas é feia.
A Grécia é o meu país de fadas.
E por isso, e pode parecer um exagero, mas para mim não é, quando penso na Grécia para não pensar em Portugal, enredo-me num incompreensível masoquismo em que não evito a tristeza e apetece-me chorar e penso nisto:


¡Que no quiero verla!
Dile a la luna que venga,
que no quiero ver la sangre
de Ignacio sobre la arena.
¡Que no quiero verla!
La luna de par en par,
caballo de nubes quietas,
y la plaza gris del sueño
con sauces en las barreras
¡Que no quiero verla¡
Que mi recuerdo se quema.
¡Avisad a los jazmines
con su blancura pequeña!
¡Que no quiero verla!
La vaca del viejo mundo
pasaba su triste lengua
sobre un hocico de sangres
derramadas en la arena,
y los toros de Guisando,
casi muerte y casi piedra,
mugieron como dos siglos
hartos de pisar la tierra.
No.
¡Que no quiero verla!
Por las gradas sube Ignacio
con toda su muerte a cuestas.
Buscaba el amanecer,
y el amanecer no era.
Busca su perfil seguro,
y el sueño lo desorienta.
Buscaba su hermoso cuerpo
y encontró su sangre abierta.
¡No me digáis que la vea!
No quiero sentir el chorro
cada vez con menos fuerza;
ese chorro que ilumina
los tendidos y se vuelca
sobre la pana y el cuero
de muchedumbre sedienta.
¡Quién me grita que me asome!
¡No me digáis que la vea!
No se cerraron sus ojos
cuando vio los cuernos cerca,
pero las madres terribles
levantaron la cabeza.
Y a través de las ganaderías,
hubo un aire de voces secretas
que gritaban a toros celestes,
mayorales de pálida niebla.
No hubo príncipe en Sevilla
que comparársele pueda,
ni espada como su espada,
ni corazón tan de veras.
Como un rio de leones
su maravillosa fuerza,
y como un torso de mármol
su dibujada prudencia.
Aire de Roma andaluza
le doraba la cabeza
donde su risa era un nardo
de sal y de inteligencia.
¡Qué gran torero en la plaza!
¡Qué gran serrano en la sierra!
¡Qué blando con las espigas!
¡Qué duro con las espuelas!
¡Qué tierno con el rocío!
¡Qué deslumbrante en la feria!
¡Qué tremendo con las últimas
banderillas de tiniebla!
Pero ya duerme sin fin.
Ya los musgos y la hierba
abren con dedos seguros
la flor de su calavera.
Y su sangre ya viene cantando:
cantando por marismas y praderas,
resbalando por cuernos ateridos
vacilando sin alma por la niebla,
tropezando con miles de pezuñas
como una larga, oscura, triste lengua,
para formar un charco de agonía
junto al Guadalquivir de las estrellas.
¡Oh blanco muro de España!
¡Oh negro toro de pena!
¡Oh sangre dura de Ignacio!
¡Oh ruiseñor de sus venas!
No.
¡Que no quiero verla!
Que no hay cáliz que la contenga,
que no hay golondrinas que se la beban,
no hay escarcha de luz que la enfríe,
no hay canto ni diluvio de azucenas,
no hay cristal que la cubra de plata.
No.
¡¡Yo no quiero verla!!

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

"Eu vi mas não agarrei", cantavam os Ornatos. E que tal ver e agarrar?

Ora, ouvi dizer que Ethan Hawke, Julie Delpy e Richard Linklater estão em conversações para realizar a sequela de Before Sunset. Espero bem que se despachem.
Eu gostei muito, mas mesmo muito, do Before Sunrise, porque era pouco mais nova do que as personagens quando vi o filme e portanto identifiquei-me muito com o que diziam e com a história em si. Amores à distância sempre me atraíram, e nunca consegui ultrapassar o facto de, parvamente, Jesse e Celine não terem trocado moradas nem números de telefone nem...? Hã? Estavam a pensar em quê? Foi bem feita terem de esperar nove anos para se encontrarem novamente.
Também gostei muito, mas mesmo muito, de Before Sunset, porque era pouco mais nova do que as personagens quando vi o filme e portanto identifiquei-me muito com o que diziam e com a história em si. A noção de que é preciso trabalhar para tudo na vida, até para mantermos as pessoas de quem gostamos perto de nós, sempre fez muito sentido para mim, e nunca consegui ultrapassar o facto de, parvamente, Jesse e Celine terem passado o filme todo a falar e a trocar impressões sobre coisas vagas quando é tão óbvio que, ponto um, o que Jesse tem a fazer é divorciar-se e ficar com a Celine, ponto dois, o que Celine tem a fazer é dizer a Jesse que gosta dele e que quer que ele se mude para Paris. Ou vai ela para os States, já que o Jesse tem um filho pequeno, se calhar é mais fácil assim.
Às vezes perdemos muitas oportunidades na vida e ficamos a pensar, ah, que parva que eu fui em não ter aproveitado isto ou aquilo melhor, este ou aquele emprego, o curso, porque é que não fiz uma pós-graduação, porque é que não concorri a não sei onde quando ainda era nova e etc. e etc. Já não há nada que possamos fazer e ficamos carcomidos por dentro devido a estas coisas parvas, externas, que não podemos mudar. Com as pessoas é um bocadinho assim, há pessoas que passam por nós e não aproveitamos quando devíamos aproveitar. No entanto, a vantagem das pessoas é que podemos sempre telefonar-lhes, mandar-lhes um email, combinar um cafezinho, e quando estivermos a tomar esse cafezinho temos de aproveitar e de lhes dizer o que realmente queremos dizer, "olha, tu para mim és o Corto Maltese", por exemplo. 
Deixamos as pessoas passar por nós porque às vezes achamos que é tudo muito difícil e complicado e que não vale a pena. Foi o que aconteceu ao Jesse e à Celine e perderam nove anos. Tudo bem que são personagens ficcionais, mas são ilustrativas dos erros parvos que às vezes cometemos porque a "convenção" diz-nos que uma coisa não vai resultar só porque há distância e milhares de quilómetros no meio.
O que a gente não sabe nem pode saber na altura é que resulta, sim. Resulta, resulta e resulta. E se pensarmos assim, resulta mesmo (parece que li aquele livro que é o Segredo, não é? Mas não, realmente não li. Consigo escrever posts deste calibre elevadíssimo mesmo sem ler livros de igual calibre elevadíssimo.). 

...ainda a propósito do post anterior:

Case in point:
Submarine, 2010.
Confirmar data de lançamento em DVD.
Confirmar data de estreia nas salas portuguesas (e noutros países europeus também).

Há aqui, com certeza, algo a fazer.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Desabafo atabalhoado

Ando a ler coisas na net sobre a lei da cópia privada e essa coisa abjecta que é a Acta.
Tudo uma latrina.
A minha opinião não é muito diferente da maior parte dos textos que tenho encontrado sobre estes tristes assuntos, e o meu próprio texto também não será muito diferente, portanto não precisam de ler. 
A minha pergunta é, há alguma banda que tenha ido à falência por causa da internet e dos downloads ilegais? Pelo contrário, ouço falar é de bandas que usam a internet de forma inteligente para auto-promoção, dispensando assim as grandes editoras. Se a resposta destas últimas é propor e/ou apoiar mais impostos e legislação ao nível da Acta, em vez de repensar o seu papel, tenho muita pena. Não é assim que se travam os downloads ilegais que tanta diferença lhes fazem na carteira.
Quando os Metallica intervieram para fechar o Napster, fiquei indignada e nauseada de tal modo que ainda hoje não consigo nem vê-los. Nunca pagaria um CD deles, nunca pagaria um concerto, nunca sequer iria a um concerto destes senhores mesmo que o bilhete fosse oferecido. É que nem de graça os quero ouvir ou ver depois do que fizeram. Uns tipos que ganharam milhões e que continuam a ganhar milhões querem fechar a Napster porquê?!
 Não discuto a ilegalidade de sites dos quais o Napster foi percursor, mas estes sites também contribuem para promover bandas e material criativo, e porque não pensar em soluções legais, que façam as pessoas pagar um preço justo, para que todos possamos continuar a apreciar boa música? Faz algum sentido sequer considerar em, sei lá, eliminar o YouTube, por exemplo? 
Se calhar, o que é preciso aceitar, principalmente "no que concerne" a editoras, é que os milhões de antigamente já não são gerados de forma tão fácil. A internet permite que cada indivíduo partilhe a sua criatividade, com mais ou menos sucesso. Porque é que eu hei-de contribuir para que uma miúdeca loura vinda de uma qualquer sarjeta, com um palmo de cara e garganta à Celine Dion (às vezes nem isso), que vai para os concertos fazer playback, enriqueça de forma desproporcional ao trabalho que faz? Posso encontrar música bem mais gira e de mais qualidade na net, produzida por músicos com muito mais talento e de forma muito mais barata (nem sempre, porém - afinal, a net também contribuiu para lançar a Ana Free. Só me faltava agora ter de pagar imposto para ter de a ouvir. Preferia pagar imposto para o José Cid. Não que a Ana Free seja horrível, coitada da miúda, e além disso tem muita iniciativa, mas enfim, não sou fã).
Como dizia o Darwin, adapta-te ou morre (acho que foi o Darwin que disse, já nem sei). Há com certeza, e de certeza formas mais criativas e justas de combater a pirataria do que impostos irrazoáveis e atentados à democracia como é o caso da Acta. 
É assim tão difícil de compreender? Afinal, para que é que os países democráticos têm representantes eleitos? É para dar dinheiro aos senhores ou para velar pelos interesses da arraia-miúda, lá dizia o Fernão Lopes?
Pela arraia-miúda é que não é, como tristemente já se constatou até à exaustão.
Desculpem o desabafo atabalhoado.

Adenda: esqueci-me de dizer que, quanto a filmes, talvez descer o preço dos DVDs a 20E seja boa ideia. Era um sinal positivo para motivar as pessoas a comprar cópias legais. Investir em extras decentes em DVDs também seria bom, não extras da treta que a gente já sabe que não vai ver. Melhorar a distribuição mundial dos filmes também seria positivo - quando um filme sai em DVD nos EUA, por exemplo, e ainda não chegou às salas na Europa, e em certos casos nunca chega, está-se à espera concretamente de quê? 
Motivar as pessoas a ir às salas de cinema também seria positivo, embora quem gosta a sério de cinema vá às salas de qualquer maneira. Eu deixei de poder ir tão frequentemente como desejaria, e sinto umas saudades terríveis. Compenso ao ver filmes em casa, mas não é a mesma casa. Legal ou ilegalmente.
Também não era má ideia respeitar o facto de a cópia digital também ser paga, portanto não faz sentido andar a dificultar a vida às pessoas que compram música no itunes quando querem partilhar a música que compram privadamente (não estamos a falar de vender ilegalmente). Quando é tão mais fácil fazer download do mp3 ou filme, ver quando quiser, dar aos meus amigos e familia,ao invés de estar a gastar dinheiro numa cópia legal que me dificulta a vida, a que propósito é que se espera que as pessoas gastem dinheiro?! Ultrapassa-me.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A pessoa sabe que está velha quando:

...a nossa pequenina afilhada de 7 anos diz que sabe muito bem quem é o Rui Reininho - é "o velhote da Voz de Portugal".
Rui Reininho, o meu homem, não só "velhote" como também "da Voz de Portugal".
Custou ouvir.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

A gente sabe que o dia vai correr bem...

... quando a primeira sms de parabéns, no dia do nosso aniversário, é do Benfica, a desejar-me um dia cheio de "mística". Ah, ah, ah!
Já me queixei de ter pouca mística, mas nesse dia acho que tive, graças ao Benficazito. Se eu soubesse, já me tinha tornado sócia há muito, muito mais tempo.
A propósito - ainda não recebi nenhum bilhete de graça para os jogos. Tenho direito, ou não tenho? É que, já que estou cheia de mística, já agora gostava de ir ao estádio partilhá-la com outras pessoas de mística. A minha vida é assim.

Não tenho título, é sobre a Leni Riefenstahl

Graças às maravilhosas benesses da "hiperligação" da internet, descobri este site com uma série de artigos de Clive James, à borlix (adoro esta expressão). Ando a ler uns quantos, e dos que li gostei particularmente do artigo (no fundo ensaio) sobre Leni Riefenstahl. O texto é muitíssimo eloquente, quanto a mim, e diz-se a certa altura:
Some spectators thought even at the time that her cinematic gift had served to legitimize a murderous ideology, but almost nobody belittled her artistic talent. She was thus able, when the Nazis lost, to invoke the principle that art trumps politics. (...) Steven Spielberg said he wanted to meet her. If he had made Schindler's List ten times, he could not have undone the portent of such a wish, because he was really saying that there can be art without a human framework, and that a movie can be made out of nothing but impressive images. 
O texto é bastante duro, até impiedoso, e tem necessariamente de ser assim, dado o objecto de estudo. O caso de Riefenstahl é curioso porque, como disserta Clive James, o talento que quase todos lhe atribuem foi completamente dividido, arrancado até, à ideologia que o permitiu, como se fosse uma entidade completamente à parte do nazismo. 
Eu já escrevi, talvez até demasiadas vezes, sobre como, quanto a mim, a arte tem de ser tomada em si mesma, e como o Bloom tem toda a razão em adoptar um critério puramente estético para o cânone, dissociado do dado social, político, até ético, mas casos como o de Riefenstahl fazem-me pensar e, acima de tudo, repensar tudo isto. Uma coisa é a gente achar piada ao Sean Penn no Sweet and Lowdown de Woody Allen, que é um ser humano execrável mas um músico sublime - além de ser ficcional, a personagem de Sean Penn nunca andou a matar gente. Outra coisa é ver o Triunfo da Vontade, por exemplo, e admirar e gabar o talento que o produziu, e que as imagens são tão bonitas e isto e aquilo, estando perfeitamente ciente da ideologia (assassina, como a qualifica James) que justificou o filme. Interessa verdadeiramente saber se Leni Riefenstahl sabia ou não dos campos de concentração (e tudo indica que sabia, por mais que o tivesse negado)? Alguns dirão que não, que isso é uma questão ética que não prejudica a beleza do filme. Eu acho que, para mim, prejudica. Lembro-me de ler um artigo no Público, há imenso tempo, precisamente sobre o Triunfo da Vontade, em que se descrevia o filme como "horrivelmente belo" e Riefenstahl como "do lado errado da história". Mas a questão do seu talento, e da validade do filme, permanecia intocável, dissociada da moral e da ética.
Não tenho a certeza de que as coisas possam ser assim. É evidente que não me passa pela cabeça vir agora dizer que os filmes dela deviam ser proibidos ou coisa do género, nada disso. Penso apenas que a "human framework" que James menciona não pode, de facto, estar ausente quando se vê algo como o Triunfo da Vontade (e concordo com ele quando insinua que o facto de Spielberg querer conhecer Riefenstahl seja no mínimo grotesco). Podemos ver o filme, podemos achar bonito - mas temos de saber, nuito claramente, que é um filme assassino. Se isso não nos incomodar, se acharmos que não influencia a forma como pessoalmente o visionamos ou, até, a recepção do filme em geral, então há algo de errado connosco. Acho mesmo que sim.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Pessoas incompletas

O Corto Maltese acaba de me perguntar: "como é que é possível que nunca tenhas visto o Rei Leão?!"
Olhou para mim de forma tão chocada que me sinto uma pessoa incompleta.
Pois é. Nunca vi o Rei Leão nem nunca vi o Bambi. Pode parecer insignificante, mas interrogo-me se isto não terá consequências mais profundas. Será que este tipo de lacunas nos torna pessoas incompletas a nível "coltural"? Será que as mesmas lacunas me impedem de participar activamente no imaginário colectivo de toda uma geração, neste caso a minha, explicando-se assim porque me sinto às vezes tão desligada da sociedade em geral? Dou um exemplo - eu podia ter escrito esta pergunta no facebook, mas não valeria a pena, porque só tenho cinco amigos no facebook, não reunindo assim amostra representativa. Sou uma pessoa de quem ninguém gosta, e se eu tivesse visto o Rei Leão em pequena, a coisa talvez se tivesse resolvido. Será que a ausência de imaginário colectivo vai provocar em mim uma psicopatia a longo prazo, enveredando eu pelo caminho de serial killer? São estas as questões que eu levanto.
Há pessoas que se calhar nunca viram o Último Tango em Paris ou o Elton John em Vilar de Mouros e isso, para a geração delas, é fundamental. Se calhar, também elas são, como eu, pessoas incompletas.
De modo que a minha pergunta para o fim-de-semana é: há alguém incompleto como eu que nunca tenha visto o Rei Leão e se sim, o que fazem para colmatar a lacuna (tarefa importante, a de colmatar lacunas)?

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

British Office vs American Office (alguns spoilers, poucochinhos)


Eu adoro, adoro, adoro, mas é que adoro, o Office. Estamos a falar do original e único Office britânico, com aquele génio do Ricky Gervais a fazer de David Brent, a personagem mais inesquecível que eu alguma vez vi em televisão por todas as más razões, o que a torna ainda mais inesquecível.
Durante muito tempo, achei que não valia a pena ver a versão americana, por razões várias. Primeiro, era impossível ser melhor do que o Office britânico. Segundo, era impossível alguém comparar-se a Ricky Gervais a fazer de David Brent. Terceiro, era impossível alguém comparar-se a Ricky Gervais a fazer de David Brent. Quarto, era impossível alguém comparar-se a Ricky Gervais a fazer de David Brent. Quinto, parecia-me também impossível recriar o humor cáustico, desconfortável, do Office, em que a pessoa sente tanta vergonha alheia que se quer enfiar num buraco. Sublime, mesmo.

Bom. Acontece que comecei a ver uns episódiozitos do Office americano aqui e ali, e comecei a gostar. O truque é a gente deixar de comparar, porque a versão americana, com o avançar das temporadas, deixou de ser de facto uma versão e ganhou autonomia e mérito próprios. É claro que o Office americano é uma sitcom americana, logo muito mais doce e mais fofinha do que o Office britânico, que era terrível no seu retrato da rotina cinzenta do escritório. Os americanos não resistem a tornar o escritório mais aprazivelzinho, e em geral todas as personagens são mais queridas, mais bonitas, mais fáceis de gostar do que na versão britânica (basta comparar o Jim e a Pam, lindos, com o Tim e a Dawn, normais). Passa-se exactamente a mesma coisa com o Shameless britânico e o americano, por exemplo, e sobre isso já escrevi, portanto não repetirei.
Há uma grande diferença entre David Brent e Michael Scott, o patrão americano, porque este último, por mais idiota que seja (e é bastante), é genuinamente afectuoso. De certa forma, gosta-se dele, ao passo que é impossível gostar de David Brent. Michael Scott também tem a vantagem de ser interpretado por Steve Carrell, que, independentemente das escolhas desastradas que por vezes faz em termos de filmes (excepção feita ao Virgem de Quarenta Anos, ao qual acho piada embora não queira achar piada, mas acho, porque tem piada), enfim, apesar de filmes menos bons, consegue ser quase perfeito. Mas não o queiramos comparar a David Brent, porque senão não resulta. David Brent foi muito mais longe do que qualquer espectador de sitcoms alguma vez poderia esperar, e Michael Scott fica, por comparação, a meio do caminho.
Mas não era propriamente sobre isto que eu queria falar, embora possa parecer que sim. Num determinado episódio do Office americano, a empresa de papel onde todos trabalham está a falir e é vendida a um monstrengo qualquer, uma nova empresa empenhadíssima no lucro e na produtividade e tal. Os empregados ficam a saber que, ao invés das 6 semanas de férias de que anteriormente gozavam, passam a ter apenas duas; é-lhes dado um termo com água para não andarem sempre a passear pelo escritório a caminho da máquina de água (aquelas que têm uns garrafões, não sei como se chamam); todos os sites "recreativos", como facebook, email pessoal, youtube, são bloqueados. 
Eu sei que algumas empresas fazem isto, de facto, e que já ninguém discute muito porque se tornou aceitável e legítimo que a empresa não pague aos trabalhadores para eles andarem no facebook. Por um lado, é legítimo. Por outro, é horroroso. Eu, por exemplo, nunca vou ao facebook no trabalho por vária ordem de razões, a saber, ponto um, a minha senha do wireless tem um problema que ninguém consegue resolver. É só por isto. Se trabalhasse num sítio em que a entidade patronal confiasse tão parcamente em mim ao ponto de me infantilizar (a menina não vai ao facebook antes de fazer o trabalho de casa), acho que me sentia, digamos que, mal. E foi isto que aconteceu às pessoas nesse episódio do Office, coitadas. Resmungaram imenso, mas ou aceitavam, ou iam para a rua.
Trabalhar para o cheque ao fim do mês custa muito, sinceramente. Não é um favor que façamos a alguém oito horas por dia. De modo que não vejo o problema de se ter acesso livre ao youtube, facebook e quejandos. Ou talvez seja apenas eu que estou mal habituada. Mas acho mesmo que não, que não estou. Pelo contrário.
Your teacher preaches class like you're some kinda jerk. Fight for your right to party. Cantam os Beastie Boys e canto eu.

Facadinhas

Pois é, ando assim numa onda mais introspectiva e ponho-me a pensar sobre o amor e casais e outras coisas assim lamechas.
O meu instrutor de condução, há muitos anos, tinha muita opinião sobre estas temáticas. Gostava de falar da importância da família, que era para ele o mais importante do mundo, e dizia "é que uma facadinha no casamento aqui e ali, pronto, é normal, mas o mais importante é a gente dar atenção à família, sair com a família aos Domingos, estar com a família". 
Nunca quis saber o que é ele entendia por "facadinhas", mas sei o que algumas pessoas entendem, gerando-se assim generalizações relativamente parvas como "se for só beijinho na boca não conta" ou "se for a viajar ou noutro país não conta". Eu designo isto por parvo, mas na verdade não o é necessariamente. Se estiver tudo bem resolvido e às claras, cada um é que sabe em que relação é que se mete. Cada um é como cada qual (não resisto, adoro esta expressão).
Quanto a mim, a questão da monogamia é algo que faz sentido, embora também só relativamente, porque sei lá se passado cinquenta anos (ou para aí dez) ainda vou pensar da mesma forma. Nem sei se é possível manter um casamento feliz durante cinquenta anos (ou para aí dez). Por um lado acho que sim, claro que sim, por outro acho absolutamente impossível, não porque as tentações extra-conjugais andam por aí a saltitar, mas sim porque cinquenta anos (ou para aí dez) sempre com a mesma pessoa parece esquisito. Só isso, esquisito. Mas depois penso no Corto Maltese e em chocolate, que para mim vão quase dar ao mesmo, e da mesma forma que não me imagino a deixar de gostar, ou sequer a entediar-me com chocolate, também não me imagino a deixar de gostar, ou sequer entediar-me com o Corto Maltese. 
Mas isto presumindo que tudo é honesto e não há cá facadinhas. As facadinhas sempre me pareceram falsamente inofensivas, ou por outra: sempre me pareceram destrutivas, mas falsamente inofensivas para quem diz que elas são inofensivas. Aquele quadro de Frida Kahlo chamado, precisamente, "Facadinhas" (acho que se chama assim), e apesar de retratar uma situação bastante diferente e muito mais terrível (um homem que matou a mulher à facada, por ciúmes, julgo, e justificou o crime como sendo "apenas umas facadinhas"), acaba no fundo por falar da mesma coisa. Uma facadinha é uma facadinha. Mesmo que não doa propriamente, pica, faz comichão, sei lá, em geral é desagradável. (A propósito, o quadro, terrível e bonito como tudo o que Frida pintou,  é este:

).

E isto para dizer o quê? Para dizer que hoje me enervei imenso no trânsito, que não atava nem desatava, que cheguei atrasadíssima, que foi muito complicado, e lembrei-me do instrutor de condução que achava que a facadinha faz parte do casamento.
Talvez faça, quem sou eu para dizer. O que tenho, sim, para dizer é que facadinhas não são fenómenos que me agradem. É que a mim doem-me mesmo. Cada um é como cada qual.
Bem haja pela atençãozinha.