quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Tenho uma carta escrita para ti, cara bonita, não tenho por quem a mande

Tenho uma querida amiga que se dedica ao postcrossing. É um sistema parecido com aquele antigo do pen pal, só que em vez de se ter um correspondente, ou vários, em partes do mundo diferentes, recebem-se centenas de postais de variadíssimos países. A minha amiga explicava-me que se pode até especificar o tipo de postais de que se gosta, e começar a receber cartões mais personalizados só com livros, ou só com gatos, ou só com cães, ou só com paisagens, etc.
Eu nunca teria disciplina para isto. Uma coisa tão simples como o bookcrossing, tão boa ideia, foi coisa que nunca consegui fazer, porque era preciso arranjar umas etiquetas para pôr no livro a dizer que era bookcrossing, e deixar em locais específicos, e para mim isso já era muita complicação. Sou uma pessoa de mente e acções simplistas, o que posso fazer.
E porém. A minha amiga fala do prazer que é receber coisas, que não contas e publicidade, na caixa do correio. Eu já não recebo nada de interessante há tanto tempo. Longe vão os tempos em que o Corto Maltese me enviava mensagens queridas dos portos distantes por onde andava (não me estou a queixar, que é melhor ter um Corto Maltese perto de nós do que de mar em mar, mas mesmo assim, os postalinhos eram tão queridos).
Lembro-me de há muitos anos ter um amigo que me enviava todas as semanas, religiosamente, cartas de muitas páginas, sempre muito originais, com envelopes que ele próprio fazia a partir de revistas e de jornais. Era tão entusiasmante. Eu respondia também, todas as semanas ia aos correios, e alegremente partilhávamos a nossa vida assim, através da escrita e da distância física. Porque uma carta dá muito significado à distância e faz-nos perceber que ela, a distância, pode querer dizer muita coisa, ao invés de não querer dizer nada, que é o que as pessoas estão sempre a pensar.
Tal como as cartas, que hoje em dia quase ninguém envia, deixei para trás alguns amigos e recordações. Não sei o que aconteceu a esse meu amigo das cartas bonitas. É como o John Lennon canta no In My Life - há coisas que permanecem na nossa vida, outras que se esvaem.
Mas de vez em quando a gente tem saudade, pá. Saudade da distância. Para haver distância, tem de haver qualquer coisa que nos faça sentir a distância. Talvez essa coisa seja a amizade, o amor, o que quer que lhe queiramos chamar, mas cito agora outro cantautor que o explica muito bem - "sei que essa coisa é que é linda".

2 comentários:

Joaquim Moedas Duarte disse...

Passei para rele a sua sempre bela escrita e desejar BOAS FESTAS, se possível...

Saudações

Rita F. disse...

Betânia, sorriso também. :)

Méon - obrigada e feliz Natal também.