domingo, 4 de dezembro de 2011

Pata

Disseram-me uma vez, quando eu era pequena, que ser canhoto dava muito jeito para o andebol. Até hoje não faço ideia nenhuma se isto é verdade, porque até hoje nunca joguei andebol na vida. No entanto, cresci com esta ilusão de que haveria no mundo um desporto em que finalmente conseguiria ser bem sucedida, e tudo graças à minha mão esquerda, aquela que me remete para a categoria de canhota.
A piada está no facto de eu, com a idade avançada que tenho, ainda achar que um destes dias vou jogar andebol e vou ser super-óptima-espectacular e ganhar montes de prémios, tudo à conta da minha condição de canhota, algo que me é tão natural, algo que não me custa nada, e que isso vai redimir os penosos anos de Educação Física da escola (terror), corridas e corridas à volta da porcaria do pavilhão, a ouvir as repetentes a queixarem-se de que "isto não é nada bom para as mamas", anos a correr atrás da bola de basquete como se aquilo interessasse para alguma coisa e a tentar fingir que percebia as regras do jogo, anos a fazer serviço no vólei e a bola saltar para todas as direcções possíveis menos para o campo adversário, anos a ser obviamente a última escolhida para as equipas, anos a ter de aturar todos os meus amigos na praia a quererem jogar ou vólei ou às cartas, e eu sem querer jogar a nada porque tanto um como o outro me aborrecem de morte, e ver até as minhas amigas patas como eu todas contentes, aos pulinhos de satisfação por estarem num círculo com os rapazes giros a estender os braços e a mandar com a bola não sei para onde, e eu sem perceber onde é que estava a piada. Tudo bem, rapazes giros.
E portanto desenvolvi esta fantasia, quiçá um dia realidade, de que podia ser uma pata a todos os desportos, menos no andebol, porque sou canhota, e ser canhota dá muito jeito para o andebol. Eles que esperassem para ver, gargalhada maléfica.
Nunca aconteceu, mas não quer dizer que um dia não venha a acontecer. Como diz o John Lennon, a vida é o que nos acontece quando fazemos outros planos. Nos meus planos não está jogar andebol, nem jogar a nada, portanto pode ser que este grande triunfo desportivo me aconteça por geração espontânea. 
Tudo por causa da minha mão esquerda. Aquela que me faz sentir menos pata. 

2 comentários:

zozô disse...

Obrigada, Rita. Tudo o que eu sempre quis dizer sobre esse terror que era a Ed. Física está muitíssimo bem condensado no segundo parágrafo.
Aqui me assumo: eu sou/fui uma pata (com a agravante de ser destra).

Rita F. disse...

E os fatos de treino... os ténis... meu Deus. O horror, o horror.