quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Pela milionésima vez, Rebecca (spoilers)

Eh pá, estou tão farta de ouvir dizer (ler, para ser mais precisa) que a Mrs Danvers estava apaixonada pela Rebecca, e que a sua devoção por esta última era um grande subtexto para demonstrar uma relação lésbica e etc. e tal.
Ao ler o livro, conseguimos perceber que Rebecca era um espírito muito livre, muito dado à rambóia, e que provavelmente não lhe interessaria distinguir entre homens e mulheres, desde que se divertisse com um ou com outro. Fala-se imenso da possível bissexualidade de Rebecca, e penso que o livro o dá de facto a entender.
Mas o caso de Mrs Danvers é inteiramente outro. A sua história com Rebecca é uma história de amor profundo, sim, mas o que me parece óbvio é que é de amor maternal que se trata. Quando Rebecca morre, Mrs Danvers perde a sua única filha, a única pessoa que ela amava mais do que tudo, por quem daria a vida, a pessoa que justificava a sua própria existência. O ódio, a amargura de Mrs Danvers, aquilo que a encerra numa morte em vida vem do facto de ter perdido aquela a quem queria como uma verdadeira filha. 
Não admira que ela passe o livro todo em esquemas odiosos, a tentar tramar a pateta da segunda Mrs de Winter (ai, meu Deus, tenho sempre uma vontade tão grande de lhe pregar um tabefe para ver se lhe dá a espertina!). Mrs Danvers tem de recuperar, sozinha, da morte da filha e ainda tem de aturar uma tonta que casa com o marido da filha, que vem ocupar o lugar da filha, e que ainda por cima é uma mosca morta que não sabe o que há de fazer à vida (e está viva, ao passo que Rebecca está morta).
Isto tornou-se claro para mim ao ler aquela cena, tremenda, em que a segunda Mrs de Winter encontra Mrs Danvers no antigo quarto de Rebecca (preservado como no dia da sua morte) e ela, Mrs Danvers, depois de destilar toda a sua fel, começa a chorar, de boca aberta, sem lágrimas. Este "choro seco", como é descrito no livro, pareceu-me condensar um sofrimento horrível, insuperável, de quem perdeu uma parte de si, um filho. Horrível.
É só isto.

4 comentários:

Maariah disse...

Eu tenho o Kobo, gosto e acho que voltei a ler mais desde que o tenho. Gosto de sublinhar e agrada-me essa facilidade. Do que não gosto é da dificuldade que tenho em encontrar e escolher livros, se calhar falta esse contacto físico de folhear as páginas, ler parágrafos soltos e ficar curiosa.

Jamil P. disse...

do que você está falando afinal? quem são essas pessoas?

Rita F. disse...

Maariah, eu admito que seja falta de hábito. Talvez tenha de insistir mais. E nem me tinha lembrado disso, da dificuldade em encontrar livros em formato electrónico... mais outro motivo que me desmotiva. :D

Jamil, estas pessoas são personagens de um livro chamado Rebecca, da Daphne du Maurier. Eu adoro o livro e estou sempre a falar dele, daí o título do post. Percebo que comece a tornar-se confuso...
De qualquer forma, o Hitchcock fez um filme baseado no livro e tudo. Não vi o filme, mas o livro posso assegurar que é espectacular. Eu, pelo menos, acho mesmo que sim.

Jamil P. disse...

ok, rita, anotado, verei se encontro por aqui pra comprar, eis que me interessou; quanto ao filme, provavelmente o assistirei depois que ler o livro (fiz assim com 'a insustentável leveza do ser' recentemente).