quinta-feira, 29 de março de 2012

É que não há hipótese

No outro dia, estava a dar o Reality Bites na televisão, e lá fiquei eu especada a ver. Este homem, para mim, é um íman. Pronto, entre mim e ele há uma grande barreira que é um écrã de televisão ou cinema, mas fora isso, é um íman. Ainda por cima, no Reality Bites ele faz de cínico adorável e filosófo, tão pretensioso, e eu em vez de me irritar continuo a adorar como no primeiro dia, principalmente quando ele olha directamente para a câmara e diz "nobody can eat fifty eggs". Tão pretensiosozinho, tão fofinho. Ai, ai.



Doidas, doidas, doidas andavam as galinhas

Eu conheci a C. há dez anos. Éramos duas galinhas malucas, sem mais nada que fazer do que calcorrear a pequena cidade onde vivíamos, falar do curso que estávamos a tirar e trocar canções, livros, cds, dvds, batons, pulseiras, roupa, ganchos para o cabelo, chapéu. Falávamos dos namorados que tínhamos, que queríamos ter, que havíamos tido, e de que como eram todos uns parvos e nós mais parvas ainda por gostarmos deles, e ríamos por causa disto. Falávamos de como era bom estar ali, naquela pequena cidade por onde percorríamos todas as ruas, de como era bom não ter mais nada que fazer se não estudar, eu queixava-me de ter de escrever os mini-trabalhos para Sintaxe, que detestava, e a C. ajudava-me, ela que era, e ainda é, um ás na Sintaxe, uma chomskyana irredutível e competentíssima. Em compensação, eu conseguia ser ligeiramente melhor a Fonologia, e tentava ajudar a C. por aí. E entendíamo-nos bem.
A C. fumava muito e eu pedia-lhe sempre para nunca deixar de fumar, porque ela fumava tão bem, parecia uma versão mais nova e morena das starlets dos anos 40. A C. ria-se e dizia que gostava muito da teatralidade do cigarro. Ao fim da tarde tomávamos café, ou íamos ao inenarrável "pub" e olhávamos para os caloiros entretidos no "pub crawl", perdidos de bêbedos, mas sempre muito educadinhos. Surpreendentemente. E ríamos e ríamos e falávamos do Pulp Fiction e atirávamos as falas uma à outra, eu imitava a vozinha irritante e doce da Maria de Medeiros, "whose motorcycle is this", depois a voz mais despachada do Bruce Willis, "it's a chopper, baby", "whose chopper is this", "Zed's dead, baby, Zed's dead", e esta era a minha fala, e a da C. era "I say god damn, god damn, god damn", e esfregava o nariz da forma elegante como a Uma Thurman o fazia depois de inspirar a cocaína. É claro que a C. não tinha nenhuma cocaína, aquilo era tudo a brincar.
E, nessa altura, quando éramos assim, tudo o que conhecíamos e queríamos resumia-se àquilo, a filmes de que gostávamos, a música, a tudo o que não tinha importância, e às vezes o Corto Maltese pegava na guitarra e começava a tocar, a C. cantava e eu ficava ali a olhar para eles, a aplaudir secretamente, encantada.
Era, portanto, como a música do Paulo de Carvalho, mas sem a parte da "Nini" - eles cantavam uma música só para mim e eu olhava, olhava.
E desde então é só recordar. A C. é respeitabilíssima, e esperançosamente eu também, e já não cantamos no meio da rua nem nada. A C. vai-se casar e tudo, e eu acredito no casamento, a sério que sim, quer dizer - é o pior dos estados à excepção de todos os outros e é quase inevitável. Não nascemos para estar sozinhos. Mas também é o fim de uma era. Não vale a pena pensar que ainda podemos fazer isto ou aquilo, porque não podemos. Acho que quando a vida se compõe e a pessoa se casa ou tem filhos ou, sei lá, de uma forma ou de outra se acalma, há muitas portas que se abrem e é um momento feliz. Mas fecha-se definitivamente a porta a tantas outras coisas, coisas que passam a ficar só, apenas e só, na nossa memória. E nada disto é mau - é assim, apenas. 
Bom. Hoje estou melancólica. Acontece.
I say god damn.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Coisa que não compreendo: porque é que a Hellman's se passou a chamar Vianeza

Eu gostava muito da Hellman's, verdadeira maionese, mas agora que se chama Vianeza, sinceramente, penso que mais vale comprar Calvé ou maionese Pingo Doce, apesar de serem claramente inferiores à Hellman's. É que Vianeza parece nome de gelado, faz-me confusão abrir um frasco de maionese e olhar para o creme branco quando sei que o frasco diz "Vianeza", já que o creme branco parece gelado e fico sem saber o que esperar do paladar, se doce, se salgado, se a gelado, se a maionese e enfim, fico com o apetite estragado e é uma arrelia.
De certeza que a Hellman's paga fortunas a uns tipos do marketing super-espertos que aconselham a estas mudanças de nome, e não sei o que lhes passou pela cabeça para ignorarem a óbvia semelhança entre "Vianeza" e "Vianeta". É que, quer dizer, é uma mísera consoante de diferença, o que não é nada. Na prática, é o mesmíssimo nome.
Era como aquele chocolate chamado "Dove", que nem era mau chocolate, mas eu não o consumia porque me sabia sempre a sabonete. 
Um nome diz muita coisa. Pois é.

Cheira bem, cheira a Lisboa

Esta notícia é de uma idiotice tal que não resisti a vir aqui ao blogue anunciar a referida idiotice. Por onde começar? Desde o pai que, aparentemente, não tem nada de melhor para fazer, nem assuntos relativos à educação do filho mais prementes em que pensar, do que uma canção que este aprendeu na escola de apoio ao Benfica; até à indignação ridícula do FCP. E digo ridícula porque as expressões que os representantes do clube utilizaram ("professora ayatollah", "fascistas do gosto", "proselitismo") obrigam-me a chegar a uma conclusão digamos que bifurcada: ou estes senhores do FCP têm um profundo e indesculpável desrespeito por situações de efectivo proselitismo e fascismo, o que é provável, ou pura e simplesmente precisam de consultar mais vezes (uma só vez já chegava) um dicionariozito da língua portuguesa, para aprenderem o que as palavras que utilizaram querem de facto dizer. Também se pode dar o caso, e é esta uma hipótese que me ocorreu agora mas que é tão plausível que nem sei por que não me lembrei dela antes, de serem tão irredutivelmente obtusos que nem um dicionário os salve. 
Há uns largos anos, a Madona quis que o Papa lhe baptizasse a filha. Nuym rasgo de lucidez e sensatez, qual Cristiano Ronaldo ("pens'queeee revelei lucidez, sensatez"), a Santa Sé respondeu, e bem, que Sua Santidade estava ocupada com assuntos bem mais importantes. Espero que a resposta do Ministério de Educação a este caso seja mais ou menos a mesma.
Quando eu era pequena, também se cantava, em todas as visitas de estudo organizadas pela escola, " cheira bem, cheira a Lisboa, cheira mal, a Portugal". Isto parece-me bem mais grave e sério do que cantar "viva o Benfica". E porém, passaram-se mais de vinte anos e nem eu nem ninguém da minha geração se tornou terrorista, pelo contrário, trabalham e pagam impostos, que é mais do que se pode dizer da geração anterior (de alguns). 
É verdade que a minha posição é fácil de atacar, já que nunca escondi que sou do Benfica. Mas, sinceramente, pens'queee sou de grande imparcialidade "no que concerne" a este assunto do atirei-o-pau-ao-gato-viva-o-benfica, e isto porque tento imaginar o que faria se um filho meu entrasse em casa a gritar "viva o fê cê pê". Queixava-me ao Ministério da Educação? Não me parece. Diria apenas à criança, "deixa lá, filho, que isso passa". 

segunda-feira, 19 de março de 2012

Descobri no fb e concordo com tudinho. Frank Zappa sabia.




Muita civilização

Pois é, venho por este meio dizer que fico muito contente por saber que nem tudo está podre no reino da Dinamarca, aka Portugal, e que há coisas que se passam cá que são de uma civilização tal que não podemos deixar de nos comprazer com isso.
E refiro-me concretamente a uma instituiçãozinha da máxima importância: Lusocord. O banco público de sangue de cordão umbilical, preparado para fazer a recolha em todos os hospitais do país, gratuitamente, e que desenvolve investigação em células estaminais para, esperançosamente, salvar vidas. Comparemos esta elegante situação com a pobrezinha Inglaterra, que tem umas recolhazitas que não se alargam, nem de perto nem de longe, a todos os hospitais do país. Se nós conseguimos, não se percebe como é que eles não conseguem. Mas enfim, isso são assuntos lá deles, "para inglês ver", como muito bem se aplica aqui. Ah, ah. Não resisti à piadola.
A única coisa que me custa nisto tudo é ver, em hospitais e centros de saúde públicos, publicidade a empresas de recolha privadas, que pedem milhares de euros por uma "seguro de vida" que tem 0,03% de probabibilidades de sucesso (não sei se os números são estes, sei que são efectivamente muito baixos), enquanto que o trabalho do digníssimo Lusocord passa quase alegremente (tristemente) despercebido. É claro que toda a gente diz "ah, mas qualquer probabilidade é uma possibilidade!", e tal e tal, e com certeza   que sim, mas a verdade é que vejo nestas empresas mais ganância e vontade de fazer dinheiro do que vontade de salvar vidas. O Lusocord tem as células à disposição de quem delas precisa e consequentemente, quanto a mim, a doação ao Lusocord é a opção que faz sentido. Mas enfim, cada um é como cada qual e não se pode brincar nem minimizar as vulnerabilidades, receios e sensibilidades de cada mãe e pai. Que façam aquilo que a consciência dita.
A minha dita o Lusocord.
Era só isto.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Resposta pronta

Num filme de que gosto muuuuuuuuuuuuuuuuuuito, High Fidelity, com um actor de que gosto muuuuuuuuuuuito, John Cusack, há uma cena em que este último tem de se confrontar com o namorado actual da ex-namorada, isto é: neste filme, o John Cusack tem uma loja de discos e uma namorada, Laura, que acaba com ele e vai viver com um tipo todo piroso que usava anéis (papel desempenhado pelo Tim Robbins, sempre irrepreensível em tudo o que faz). Este namorado piroso, agastado pelo facto de John Cusack estar sempre a  telefonar à ex-namorada, decide ir à loja de discos do mesmo John Cusack e pedir-lhe, de uma forma toda zen e parva, que ele acabe com a perseguição. Quando John Cusack o vê, fica fora de si, e o que se segue são três diferentes formas hipotéticas de como ele poderia lidar com o caso: insulta o homem, expulsa-o da loja, ou atira-lhe com uma televisão à cabeça. É uma cena linda de ver, por acaso, e das minhas preferidas do filme. E assim ficaria John Cusack esplendorosamente vingado.
Acontece que isto é apenas hipotético. Na realidade, John Cusack ouve o que o outro lhe tem a dizer, diz "está bem" e o Tim Robbins vai-se embora tranquilamente, com as integridades física e moral intactas.
Sempre gostei deste pequeno episódio porque infelizmente se assemelha ao que nos acontece na vida real. Pelo menos, a mim, acontece. As pessoas estão sempre a dizer-me coisas parvas ou com as quais não concordo e nunca consigo responder da forma que eu acho que elas mereciam, assim do estilo "esteja mas é calada, pá". Acontece às vezes chegar a casa e pensar que devia mesmo ter respondido "esteja mas é calada/o, pá". 
Não o faço, porque por um lado a sinceridade traz chatice, e por outro lado a sociedade baseia-se na mentira bem-educada, se não estávamos bem arranjados. Mas isso não que impede que eu simpatize com a situação do John Cusack e não queira, de vez em quando, atirar televisões à cabeça de certas pessoas. Embora, com toda a probabilidade, eu não conseguisse "acartar" (lindíssimo verbo) com a televisão.


Correcção: afinal não é uma televisão, é um amplificador ou assim. De qualquer forma, penso que também não conseguiria acartá-lo.

O dedo

O meu dia começou bem, com um apontamento de humor. Fui ao supermercado e deparei-me com esta esplêndida capa:



A questão que gostaria de levantar é: quem é que teve a ideia de uma coisa assim, o olhar sensível, o meio sorriso e o dedinho meio pensativo, meio indagador? O pormenor do dedo é coisa de classe. Pergunto-me se terá sido o António José Seguro a lembrar-se desta pose, ou se terá sido aconselhado a isso. Qualquer das respostas é igualmente assustadora, julgo.
Com uma foto desta qualidade, a leitura do livro é perfeitamente dispensável. O dedinho já diz tudo.
Ai, ai. Suspiro. 
Mas quem é que teve a ideia de uma capa destas? Estão mesmo à espera que se leve o dedinho a sério? Estas questões vão atormentar-me (e provavelmente fazer-me rir) para o resto do dia.

segunda-feira, 12 de março de 2012


Infelizmente, já li hoje muita m*****, mas o que se segue deixou-me à beira do colapso:


Nada neste mundo é normal. A violência que se passa na Síria faz-me ter medo de abrir sequer os sites dos jornais online costumeiros. E, como se constata, a violência e a falta de respeito estão em todo o lado, à descarada.

domingo, 11 de março de 2012

Ninguém se chama "Baby"

Quando vi o Dirty Dancing, tinha já 17 anos. O filme já era antigo nessa altura - gostava de esclarecer este aspecto. 
Continuando. Venho por este meio dizer que este filme é uma bodega e não quero saber. A miúda tem o nariz torto e o Patrick Swayze faz o que pode, dança bem, mas enfim, já no Ghost é uma seca e aqui também. E depois a própria história é seca, é a miúda a aprender a dançar enquanto passa férias no Inatel. E que idade é que ela tem para ainda andar de férias atracada à família? Oh pá, que vá fazer o inter-rail, sei lá. 
Mas o que me faz mesmo, mesmo não gostar deste filme é o nome da rapariga. Baby. Baby. Sei que agora toda a gente caçoa disto e diz "no one puts Baby in the corner", mas não deixa de ser muito parvo. Baby.
Se a miúda tivesse outro nome qualquer, mais normal, talvez o filme se conseguisse ver. Assim, não.
Peço desculpa a quem gosta do filme, a sério que sim. Eu também gosto de milhentos filmes parvos e anódinos, para compensar o facto de não gostar deste. Olha o Príncipe em Nova Iorque do Eddie Murphy. Adoro este filme e não é grande coisa, de modo que assim me redimo. 
Boa noitinha, sim?