terça-feira, 27 de novembro de 2012

Deve haver certamente outras maneiras de uma pessoa se salvar, senão estou perdida...

Andava aqui a ler o blog da Luna e deparei-me com o post em que ela se queixa dos reviewers que lhe fazem comentários estúpidos aos artigos que escreve; pensei que ela tinha toda a razão, porque esta coisa do "peer-review" é um processo absolutamente espúrio, em que normalmente a pessoa tem de se sujeitar a tudo os que designados "reviewers" se lembrem de dizer, mesmo que estes não percebam exactamente aquilo que estão a comentar. A minha área é bastante diferente da Luna, e consequentemente a minha experiência também, mas aconteceu-me os tais "reviewers", que não sabiam ponta de português mas sim de espanhol, darem sugestões desajustadas relativamente à tradução para inglês de certos termos em português, desvirtuando assim a relevância dos exemplos que eu queria dar. Aquilo irritou-me tanto, mas tanto, que decidi que seria preferível não ver a porcaria do artigo publicado do que andar a alterar informação só para que esta se tornasse compatível com os caprichos autoritários impostos pelo "peer-review". É um joguinho de autoridade que me agrada pouco, sendo que quem ficou a perder fui eu, o "underdog" que não publicou o tal texto, e isto porque hoje em dia o que conta são os artiguinhos publicados em toda e qualquer espécie de periódicos, mesmo que não prestem, que sejam variações ad aeternum do mesmo artigo, mesmo que as fontes bibliográficas não passem do chamado "name dropping" para impressionar o indígena e etc. e etc. (atenção: muitos parabéns e justiça seja feita aos investigadores que de facto escrevem coisas que interessam e que as publicam. Precisamos deles, eu é que não faço parte desse grupo). Mas enfim, e sumariando, falta-me fortemente a pachorra. Digamos que não quero saber.
E por não querer saber, vejo-me na iminência de ter de dar uma volta à vida de 180 graus (de 360 já dei muitas vezes e nunca saí do mesmo sítio - ah, ah, ah! Piadola, queiram desculpar, bem haja).  Tem de haver forma de a pessoa viver a vida e poder dizer "eu, de facto, quero saber. Importo-me.". É disto que estou à procura; e porém, tenho sentido grande falta de orientação. Preciso de um pouquinho de orientação, como diz a Kika no final do filme do Almodovar. 
De modo que assim sendo, boa sorte para mim e para todos nós, porque no fundo, como canta o Sérgio, cá vamos andando com a cabeça entre as orelhas e se calhar mais não podemos pedir.

4 comentários:

A. disse...

Ui, e agora andamos na mesma saga outra vez, com um artigo que já estamos a submeter pela segunda vez, com comentários a dados que só foram adicionados pq pediram na primeira revisão...
Infelizmente, não nos podemos dar ao luxo de preferir não ver os artigos publicados. :(

Rita F. disse...

Eu também não me posso dar a esse luxo. Apenas vivo na ilusão de que tenho esse luxo. Mas não tenho luxo nenhum e tenho de me preparar para as consequências.
Já reparaste que entre "luxo" e "lixo" há apenas uma mísera vogal de diferença? Descobri agora porque me enganei a escrever "luxo", tendo escrito antes "lixo", e deu-me que pensar... ainda estou a pensar.

A. disse...

olha, às vezes até dá a sensação de que fazem comentários só mesmo pq têm de dizer alguma coisa (e para dar trabalho).
O reviewer do meus post fez comentários ridículos, sendo que um deles, que era uma "major revision", era a dizer que o artigo nao fazia sentido se não fizéssemos uma dada experiência com células in vitro, que qualquer pessoa que trabalhe no ramo sabe que é impossível porque mata as células todas.

Felizmente "I know my stuff", pelo que recebemos a peer review numa segunda, submetemos de novo com a "rebuttal letter" na sexta, e na segunda seguinte o paper foi aceite - o que quer dizer que o editor viu as respostas e decidiu aceitar sem sequer se dar ao trabalho de consultar os reviewers de novo. Ou seja, foi um caso de sucesso.

Mas por exemplo o paper que estamos a tentar publicar agora, foi submetido a primeira vez em março!

Rita F. disse...

Eu tenho mesmo a convicção de que grande parte dos comentários são apenas e só para afirmar autoridade, para o caso de alguém ter dúvidas. A uma amiga minha aconteceu-lhe ter de reformular o artigo cinco vezes (!) até os reviewers não terem mais nada por onde pegar. O processo todo, desde a submissão à publicação, demorou mais de um ano, mas ela sujeitou-se da mesma forma de que todos nós temos de nos sujeitar - se não publicamos, não temos nada no CV que conte verdadeiramente. ´
E isto acontece permanentemente, a quase toda a gente que eu conheço. Acho que toda a gente aceitava o peer review melhor se de facto se tratasse de um peer review honesto e que ajudasse a melhorar, não o jogo de autoridade que efectivamente é. Isso é que me enfurece e entristece, mas faz tudo parte desta vida.