Breve nota (adoro esta expressão: "breve nota") para comentar o livro que recentemente acabei de ler, The Plot Against America, de Philip Roth.
Foi o primeiro livro a sério de Roth que li. Há anos li "The Dying Animal" e não gostei muito. É daqueles livros que nos deixa um bocadinho indiferentes, nem bom nem mau, nem carne nem peixe, acho eu. No entanto, este Plot.. é bem giro, bem construído, e em geral bastante catita. Tem, contudo, uma falha grande que não consigo ultrapassar, que é aquele fim absolutamente desajeitado. Ora pensem comigo (outra expressão parva que adoro): Lindbergh é presidente, a América é varrida por uma grave onda anti-semita, a sombra ameaçadora da Alemanha nazi paira sobre a soberania dos Estados Unidos; de repente, Lindbergh tem um acidente de avião, desaparece, especulação para aqui e para ali para saber o que lhe aconteceu, a Primeira-Dama é raptada da Casa Branca e a presidência é ocupada por um facínora ainda pior que o Lindbergh, que permite que violentíssimos motins e rixas produzam uma noite em tudo semelhante à Noite de Cristal e que morram centenas de judeus, isto na terra da liberdade que deveriam ser os Estados Unidos; de repente, a Primeira-Dama, viúva de Lindbergh, escapa do colete de forças em que a haviam aprisionado, regressa à Casa Branca, diz que isto assim não pode ser, que se Lindbergh desapareceu tem de haver eleições outra vez, vai-se a eleições, felizmente ganha o Roosevelt e não o outro tal facínora, e depois de sofrimento e muita angústia e de anos a viver em efectiva ditadura, a vida volta mais ou menos ao normal, sendo que a lição a retirar é que a democracia facilmente se desmorona e se transforma em totalitarismo quando as pessoas não têm os olhos bem abertos e não defendem acerrimamente os seus direitos, liberdades e garantias.
Esta é, sem dúvida, uma boa lição, mas o livrinho deixou-me assim um tanto ou quanto insatisfeita. Não sei, acho que falta ali uma personagem maior, mais desenvolta; por exemplo, a figura do pai Roth, que é uma figura tão interessante, fica sempre dependurada sem nunca obter o justo papel no romance que deveria ter, e o fim pareceu-me muito à pressa. As pessoas babam-se pelo Roth mas se calhar ele não é assim tão bom (digo eu, do alto da minha imensa e conhecida autoridade que qualquer dia me vai valer um Nobel ou coisa que o valha).
Mas atenção, o livro está muito giro e vale a pena ler.
Se alguém tiver lido o Plot... e tiver uma visão diferente da minha, ou igual, porreiríssimo, é usar caixa de comentários e assim "encertar" uma piquena discussão.
Até breve.
5 comentários:
com licença,
o primeiro livro que li do roth, é o mais pequeno, o mais simples e talvez por isso, tal como em saramago nos seus ultimos livros, o melhor [todo-o-mundo]. admito que este, como nos livros do saramago, a ideia é muito boa, mas o resultado final não é tão brilhante.
a seguir a este li a pastoral americana, que achei igualmente difícil mas é um retrato de uma américa e por isso resulta num registo diferente.
isto para dizer que este plot against america é, como a patoral americana, um livro de registo muito diferente do philip roth. os temas estão lá quase todos [o judaísmo, p.e.], mas não quer explorar a sexualidade, as relações humanas, umas vezs tão simples, outras tão fetiches [o teatro de sabath].
resumindo, philip roth não se resume bem neste livro continuo a achar um grande escritor, mas dizer isto depois de nos apaixonarmos torna o discernimento questionável.
cheers
S.G., obrigada pelo comentário. Eu, por acaso, pensava que este livro era quase "icónico" de Roth e que representava muito bem aquilo que ele costuma escrever. Era apenas uma opinião que tinha que não se baseava em nada de concreto, já que, como escrevi no post, li muito pouco de Roth. Por acaso, também tenho cá em casa a PAstoral Americana para ler, e também pensava que era outra obra "icónica" (termo piroso, mas está à mão).
O que eu queria mesmo ler, de Roth, é um dos primeiros livros dele, Goodbye Columbus, e isto porque vi o filme quando era muito, muito pequena. A personagem principal pareceu-me tão maldosa, tão horrível, que quando descobri, mais tarde na vida, que o filme se tinha baseado num livro, quis imediatamente lê-lo para poder confirmar se de facto o protagonista é assim tão odioso ou não.
Ainda não li, mas hei-de encontrar e ler.
O Goodbye Columbus é um livro de contos mas tem graça que não me lembro de existir uma personagem assim muito odiosa...Lê e depois logo vês. "A Conspiração..." achei um bocadinho seca mas adorei a Pastoral e muitos outros dele,é mesmo dos meus autores favoritos, boas leituras!
No filme, o indivíduo deixa a namorada grávida e sem ajuda nenhuma, nem da família, e vai à vida dele. Nojento, mesmo. Fiquei muito chocada com isto, ainda por cima porque era mesmo muito pequena, mas o que é certo é que hoje já sou consideravelmente velha e permaneço chocada.
tive de fazer um esforço enorme, e ainda procurei algum resumo, mas não consigo encaixar essa descrição...há uma suspeita de gravidez, mas a miúda é que acaba com a relação no final (o cliché do fim da relação pela distância da nova vida na universidade)...
confesso que fiquei confuso mas a minha memória não ajuda em nada. já estou a sacar o filme para confirmar.
pode dar-se o caso de o realizador ter interpretado a personagem de forma diferente (p.e. no filme breakfast at tiffany's a actriz principal faz um papel muito mais polido do que se pode apreender do livro)
:)
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