sexta-feira, 8 de julho de 2011

E se te mandassem atirar para um poço, atiravas-te?

Ainda a tentar superar a indignação da nota "lixo" que a excelsa Moody's nos ofereceu, constato que ler as notícias só traz misérias e infelicidade. O fecho do pasquim News of the World, por exemplo, que já há muito deveria ter acontecido, não é uma boa notícia porque é o resultado de uma série de tristes eventos em que o jornal se viu envolvido, subornando polícias e acedendo a escutas ilegais (inclusivamente a famílias das vítimas dos ataques de 7 de Julho de 2005) e gozando de impunidade durante anos. Já se falava disto há uns tempos, o Governo assobiava para o lado, ah, escutas a celebridades, que maçada, mas agora que toda a gente se indignou com o abuso e a abjecta falta de respeito que subjazem a fazer escutas a vítimas, David Cameron lá se decidiu a instaurar um inquérito público.
Tudo isto numa imensa operação cosmética a bem da moral e bons costumes, todos eles bem cerzidos, ainda que bolorentos por dentro - Rupert Murdoch, uma espécie de Berlusconi ligeiramente menos bimbo, que detém o quase extinto News of the World, assim como o Sun, o Times e o Sunday Times (por incrível que pareça, todos estes jornais, do tabloid à imprensa séria, pertencem ao mesmo homem - e talvez não seja assim tão incrível, já que todas estas publicações são de um conservadorismo um bocadinho insuportável), dizia, o que Rupert Murdoch quer é comprar o grupo British Sky Broadcasting, reinando, desta forma insuperável e incontestável, sobre todos os media britânicos. De modo que agora o mesmo Rupert Murdoch queixa-se, ah, que maçada, que aborrecimentozinho, perdemos publicidade no News of the World e está toda a gente chateada connosco, mais vale fechar, para mostrar que ainda temos alguma decência, e deixemos o Cameron instaurar o tal inquérito público, assim como assim o Rupert Murdoch é como o Hitler que também não sabia dos campos de concentração, e como tal está nesta história toda como inocente menino, até que os tempos conturbados acalmem, o Governo faça o seu papel, fingindo-se de muito admirado e revoltado, e tal e coisa, até chegar a altura de Murdoch conseguir adquirir, como quer, o grupo BSkyB, e publicar as notícias que quiser, quando quiser, como quiser. 
Dependemos dos meios de comunicação social para formarmos uma imagem do mundo.
Dependemos de agênciazecas de rating americanas para termos um país. 
E quando estas autoridades não têm vergonha na cara, por consequência, perdemos também nós a vergonha? Era o que eu gostava de saber.
Nunca confiar nas vozes que vêm de cima, para não acabarmos como a canção dos Rage Against the Machine - they say jump, you say how high.
Que miséria, pá.

1 comentário:

Dulce disse...

Nem mais, «que miséria pá»!
Excelente análise, concordo da primeira à última linha. A nossa subserviência aos media e às agências de rating é inacreditável e mais tarde ou mais cedo vamos colher o que semeámos... :$