sexta-feira, 8 de julho de 2011

Arte pela arte?

Esta foi das exposições mais bonitas que já vi. Linda, linda. Tinha fotografias da minha Julia Margaret Cameron e este quadro magnífico do Dante Gabriel Rossetti que nunca tinha visto ao vivo, estes cabelos, estes braços e pescoço tão compridos e esguios, o cabelo, não sei, adoro:



A exposição era sobre o Esteticismo do século XIX. A arte pela arte. Curiosamente, o que isto me faz sempre lembrar é um excerto da Rosa, Minha Irmã Rosa, de Alice Vieira, em que Mariana, a personagem principal, descreve um dia em que a mãe trouxe para casa um frasquinho de vidro cheio de coisinhas coloridas lá dentro (mais ou menos assim, estou a puxar pela memória de uma leitura de décadas atrás). A Mariana pergunta à mãe para que serve o frasquinho, e a mãe pergunta-lhe: "não achas bonito?". "Acho", responde Mariana. "Então serve para isso - para ser bonito", responde a mãe.
Acho que nunca me esqueci deste excerto por, provavelmente, considerar que fazia absoluto sentido. Há coisas que servem apenas para serem bonitas. Tendemos a menosprezar isto, mas não deve ser menosprezado, pelo contrário - deve ser prezado e até exarcerbado. O sucesso das peças "design" que todos os arrivistas (e pessoas normais, claro, não vale a pena ser tão amarga, que desagradável) gostam de ter em casa é exactamente isto - é bom ter coisas em casa que não só cumprem uma função, como são, pura e simplesmente, bonitas. Daí o sucesso do papel de parede de William Morris, querido pré-Rafaelita e, como dizem alguns, o "inventor" do design:



E podemos agora entrar na velha discussão, na qual também penso muitas vezes - mas a arte não deve ter um propósito social? Não deve ter uma utilidade, modificar activamente a vida das pessoas? Deve. A vida das pessoas não tem qualidade se não for rodeada de coisas bonitas, que sirvam para ser olhadas muitas vezes, sem nunca chegar ao ponto de exaustão. Coisas e pessoas. Pessoas com cabelos enormes, à sereia. Por exemplo:

Estes cabelos pré-rafaelitas, a sério, são imbatíveis. Eu não tenho um cabelo assim, portanto, para ter qualidade de vida, tenho de poder apreciá-lo em alguém, mesmo que seja apenas uma sereia num quadro.
Então e a arte socialmente comprometida e tal? Sim, concordo. Desde que seja bonita, por mim tudo bem.

3 comentários:

Zé alberto disse...

Olá Rita, gosto bastante da estética Pré-Rafaelita, que me lembrei de deixar-te aqui este link de um trailer de um filme fascinante de Peter Weir ("Picnic at the Hanging Rock")que, dos filmes que já vi, é o que mais se aproxima dessa estética.

http://www.youtube.com/watch?v=8QV9dYt_iCk&feature=related

betânia liberato disse...

meu deus, referiste o Rosa, Minha Irmã Rosa... lembro-me disso

Rita F. disse...

Zé Alberto, obrigada, obrigada! Desconhecia o filme por completo.

bpassarinho, poderá ser o Chocolate à Chuva, mas tenho 99% de certeza que é Rosa, Minha Irmã Rosa. :)