quinta-feira, 24 de março de 2011

Eu sou linda, não importa o que eles dizem, as palavras não me deitam abaixo, eu sou linda sob todos os aspectos, ai sou, sou, portanto não me deitem abaixo hoje, ó faxavôr

Há uns tempos, uma amiga daquelas antigas, do peito, ofereceu-me uma fotografia tirada há sei lá eu quanto tempo, há pelo menos 15 anos, tendo a mesma fotografia a ternurenta e comovente peculiaridade de contar comigo e com as minhas amigas da altura (que continuam minhas amigas hoje em dia, felizmente) nos tempos da escola. 
Gostaria de chamar a vossa estimada atenção para esta expressão, que encerra mais perversidade do que se possa pensar: "nos tempos da escola". É que eu não percebo bem, bem as saudades que possamos eventualmente sentir por tal época. Para dar um exemplo, esta fotografia que me foi oferecida é uma delícia, sim, foi um querido regresso ao passado, chorei de riso e comoção ao vê-la, mas, e como dizia o outro, há que dizê-lo com honestidade, a fotografia tem umas quantas raparigas que não são assim, como direi, muito, muito bonitas. Também não são feias, mas enfim, ainda tinham muito a aprender "no que concerne" ao visual. "Nos tempos da escola", eu (e vou falar apenas por mim, que as minhas amigas não estão aqui para se defenderem) era uma pessoa com um cabelo mediano e sempre igual todos os dias, umas roupas que não lembram ao Diabo (talvez naquela altura lembrassem a algum mafarrico, mas ao Lúcifer em si não lembravam de certeza, nem hoje nem naquela altura) e em geral eu era assim, digamos que, não muito gira. Alguém mal intencionado poderá sempre argumentar "até parece que agora és gira, ah, ah!", ao que eu respondo, "pelo menos sou mais gira". Pois é.
E este episódio passou-se comigo, mas eu não sou caso único. Em geral, quando as pessoas me mostram fotos de quando eram mais novas, penso sempre que estão bem melhor com alguns anos em cima. Não sei, talvez seja porque a minha geração, quando adolescente, não tinha a sabedoria quase maléfica da malta nova de hoje em dia, que domina maquilhagens e saltos altos como se viessem direitinhas do Sexo e a Cidade ou coisa parecida. Não, a minha geração era singela e simples, contentava-se com umas calças de ganga justas e os imbatíveis Converse All Star. Isto bastava para nos fazer felizes, assim como calças com estampados de flores berrantes (eu tinha umas, elásticas e tudo, e adorava), cortes de cabelo à cogumelo, poupas com gel (esta última moda juro que nunca usei e sempre achei pirosa, valha-me isso), má música (estávamos convencidos de que ouvir Neil Diamond era, sei lá, "vintage". Apesar de eu até gostar de algumas coisas do Neil Diamond, olha aquela canção que a Tracy Chapman até gravou, tão bonita, "sorry is all that you can't say, la, la, la...").
Isto tudo para dizer que a maior parte das pessoas que conheço que nasceram no mesmo ano do que eu  são exactamente aquelee lugar-comum do vinho, já que melhoraram bastante com a idade. Aprenderam a ir ao cabeleireiro e a passar algum tempo em actividades estéticas que, ainda que deixem o interior exactamente na mesma, melhoram o exterior e são pelo menos um começo. E, em geral, vejo que têm um ar mais interessante, que eu acho que vem com a idade, e que na juventude não se tem. Mas isso talvez seja eu, que tenho mais a tendência para o velho e vejo a juventude como uma coisa muito, mas mesmo muito, passageira. Somos velhos a maior parte da vida, se pensarmos bem, e portanto é a velhice que temos de aproveitar.
E portanto a velha fotografia que me foi oferecida mostra-me a mim num outro tempo, bem enterrado no passado. E porém, não consigo deixar de contemplar esta foto por longos minutos sem sentir sempre estranhas saudades. Saudades do cabelo, das calças de ganga, dos ténis, da T-shirt enfiada nas calças (!). Saudades "dos tempos da escola", enfim, quando ir ao cabeleireiro era uma vez por ano e não tinha interesse nem importância nenhuma. Havia coisas mais importantes para fazer e para pensar.
Mas isto passa depressa, porque afinal, gosto mais dos sapatos que tenho agora.

3 comentários:

Alina Baldé disse...

lolol, pela descrição, só podes ser de 1984 ou arredores! eheheh

Rita F. disse...

Paloma, 84 não estaria nada mal! :D
Alas...

Xantipa disse...

Ah! Agora percebi a da pita!
:)