Ha muita coisa que quero escrever, mas nao ter acesso a um teclado portugues enerva-me solenemente; por outro lado, nao escrever nada tambem me enerva, de modo que vou tentar um qualquer equilibrio, escrevendo posts pequenos e sucintos. A minha vontade e escrever tudo em ingles enquanto nao regressar ao teclado com todos os acentos devidos, mas nao vou deixar que isso aconteca; ja bem basta ter cedido ao estilo piroso de intercalar frases ou palavras em ingles nos posts, portanto era so o que faltava comecar a escrever em ingles apenas devido a falta de teclado decente.
Bom. Esta extensa introducao nao faz grande jus ao meu desiderato inicial, que era, como eventualmente se poderao lembrar, escrever posts sucintos. Assim sendo, e tentando cumprir a minha va promessa (quanto menos escrever, menos necessidade tenho de acentos), o principal objectivo deste post e dizer que cheguei a conclusao de que, nao gostando de misoginia, ha certos misoginos de quem gosto bastante. Ou por outra, ha certos homens, injustamente, quanto a mim, denominados misoginos, de quem gosto muitissimo e que nao merecem a injustica de tal insulto.
Exemplo paradigmatico e D.H Lawrewce, o meu querido D.H., que, ao que parece, nao escrevendo sobre a sexualidade feminina tal como esta e retratada no Sexo e a Cidade, e portanto submetendo as suas heroinas aos desejos carnais de "faunos inquietantes" e muito masculinos (palavras de Simone de Beuvoir no Segundo Sexo, favor confirmar), ao inves de apresentar a mulher como fonte de jurisdicao, desde que roupa vestir a quem levar para a cama, dizia eu, como D.H. Lawrence nao apresentou a mulher assim, pumba, levou com o desagradavel epiteto de "misogino" em muita da meta-literatura que discutiu as suas obras. Sobre isto, tenho uma palavra a dizer: injusto. E mais nao digo, que as obras do querido D.H. explicam tudo e falam por si.
O outro exemplo, que pelos vistos tambem foi apelidado de misogino, e este magnifico J. W. Waterhouse, pintor pre-rafaelita competentissimo e lindo (ou por outra, os quadros sao lindos). Tambem ele foi acusado de misoginia - a mulher e sempre uma forca malefica, que destroi a vida do homem com a sua perfidia. No entanto, parece que uma voz se ergueu em defesa do pintor, chamando a atencao para varios quadros que Waterhouse pintara, nao apenas a pobre sereia indefesa ou a demoniaca Circe, mas tambem a sabia Medeia de quem Jasao depende, ou a sabedoria e poder atribuidos, efectivamente, a Circe, figura que Waterhouse admirava e em que condensa a importancia e o poder femininos. Pronto. Portanto, Waterhouse nao e necessariamente misogino.
Atribuir misoginia a alguem preocupa-me sempre muito, porque me parece que a dita misoginia e grave e perigosa demais para ser mal atribuida, o que muitas vezes acontece. Perde-se energia a vilipendiar artistas que, como diria o Diacono Remedios, sao bons artistas, em vez de canalizar energia para lutar contra a verdadeira misoginia.
E e este o meu pensamento do dia, que formulo com pesar por nao ter conseguido condensa-lo num post mais pequenito. Quem puder ir ver a exposicao do Waterhouse em Londres, que o faca asinha asinha, pois vale muito a pena.
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