Fico sempre abismada com a quantidade de parques que ha em Londres e, para alem disso, fico ainda mais abismada com o facto de estes imensos, lindos parques, espalhados por toda a cidade (nao e so Hyde Park) terem sempre gente, faca chuva ou sol. Ingleses e estrangeiros, velhos e criancas, caes, gatos, passaros, esquilos, patos e gansos, pululam nos parques londrinos. Bicicletas, triciclos, trotinetes; meninos de tres anos que pedalam sem a ajuda das rodinhas, calmeiroes de T-shirt que treinam o ciclismo avidamente; donas de casa de maquilhagem e calcoes que vao a andar, e adolescentes de fatos de treino da moda cujo jogging energico ultrapassa a dona de casa; familias inteiras de bicicleta, a chuva, o aspirante a poeta que escrevinha a moleskin ao pe do lago, quando faz sol; o casal de namorados que traz o picnic e ensaia o esplendor na relva; o grupo de amigos barulhentos que se alegra com vinho barato em copos de plastico ao fim de semana. Toda a gente aproveita todos os parques.
Ve-se mais natureza e faz-se mais vida exterior em Londres do que em Lisboa, cidade mais pequena, mais agradavel, mais simpatica, menos agressiva, mais soalheira, onde no entanto, e infelizmente, nao sei se pelos dificeis acessos a Monsanto, nao sei se por vergonha, nao sei se pelo apego aos carros, nao sei se pela dificuldade das colinas, enfim, nao sei, toda a gente ainda vive naquela modorra domestica que Eca ridicularizava com o seu Eusebiozinho, que sabia poemas de cor mas morria com as correntes de ar.
Ve-se pouca gente a almocar nas (poucas) areas verdes de Lisboa, por exemplo. Eu acho que e por vergonha. Se calhar, temos medo que os outros pensem que somos pobres e que por isso trouxemos a sandocha de casa. No sitio onde trabalho, nao ha sitio algum onde se possa comer, muito menos aquecer, qualquer refeicao que tentemos trazer de casa, por exemplo, e ninguem aproveita os espacos relvados do exterior para comer um lanchinho que se traz na mala. Toda a gente vai ao cafe gastar dinheiro, e eu propria ja desisti de trazer almoco de casa, porque me sinto ave rara envergonhada, e portanto faco o que os outros fazem, o que tambem e uma vergonha. Nao ha solucao.
Por outro lado, e tambem verdade que os londrinos aproveitam os espacos verdes e a hora de almoco para comer junk da loja da esquina, batatas fritas de pacote, tudo o que seja rapido e barato. Os portugueses ainda conseguem uma sopinha e um croquete por menos de cinco euros. Entre a sopa e o pacote de batata frita, eu, de facto, prefiro a sopa. No entanto, a figura assustadora do domestico, ensaboado, viuvo, mole Eusebiozinho e ainda omnipresente no nosso pequeno Portugal. Somos tao domesticos.
Comeco a pensar que a "domesticidade" e um grave defeito. Qualquer dia, escreverei mais sobre isto.
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