quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O cinema não teme, o cinema não deve

Este artigo do Público, ao qual cheguei via facebook, é interessante porque fala daquilo "que o cinema deve à literatura". Não sei se concordo inteiramente com esta ideia de que o cinema deve algo ao que quer que seja, porque me parece minimizar o cinema como arte, mas a verdade é que se ouve sempre falar de grandes filmes baseados em grandes livros, sendo que o inverso raramente acontece; também é frequente o filme ser francamente pior do que o livro, o que nos pode fazer chegar à conclusão de que a literatura é a arte maior e o cinema uma arte irredutivelmente, inevitavelmente menor.
E porém, todos sabemos que não é assim, de modo que o que eu gostava de descobrir são os casos em que o filme é francamente melhor do que o livro, ou tão bom quanto o livro. Penso que já escrevi que, na minha opinião, Lolita  do Kubrick é tão bom como o original de Nabokov; apesar de nunca ter lido a Última Hora (25th Hour no original), de David Benioff, aposto, e aposto mesmo, que este livro será claramente inferior ao filme maravilhoso de Spike Lee com o mesmo nome. O conto que deu origem a Brokeback Mountain, apesar de ser muitíssimo diferente do filme,  é tão bom como o filme, mas não o ultrapassa (mais uma vez, apenas na minha opinião); nunca li o Padrinho, de Mario Puzo, mas estou igualmente disposta a apostar que ou é pior do que o filme ou tão bom como, mas não melhor; E Tudo o Vento Levou, que me dei ao trabalho de ler por gostar muito do filme, é bastante inferior ao magnificente e arrebatador pastelão melodramático e lindo que é o próprio filme. E o que dizer da dupla 120 Dias de Sodoma, Marquês de Sade/República de Saló, Pasolini? O que dizer? Alguém que responda a isto, por favor, já que eu não li o livro nem vi o filme, por falta de engenho, arte e estômago; no entanto, gostaria de poder opiniar sobre os mesmos (idem aspas para a saga Twilight; por acaso, tenho uma amiga que disseca os livros e os filmes e farta-se de protestar contra aquilo e acha que é tudo uma manobra nojenta e manipuladora dos Republicanos mais extremos lá dos States e etc. e tal, e ou ela tem razão ou leu a converseta toda nalgum lado, mas de qualquer forma, o que ela diz parece fazer sentido; eu vi o filme em que a Bella tem o bebé e meu Deus, se há visão mais castigadora da sexualidade adolescente e da emancipação feminina, não estou a ver, nem quero ver).
Continuando. Só me consigo lembrar destes exemplos. No fundo, apenas queria dizer que a arte, quando nasce, é para todos, e que o cinema é arte a par da literatura, sendo ambos, até, relativamente semelhantes. Assim, o que há a fazer é complementá-los, isto é, há que ler bons livros e ver bons filmes e exigir sempre bons filmes e bons livros para nos salvar a vida. Sem isso, a gente não vive. 

5 comentários:

Rita Maria disse...

Eu acho que o Morte em Veneza-filme está à altura do livro que o origina, ombro a ombro em estatuto de igualdade, gigantes os dois. E acho que 'Quarto com Vista sobre a Cidade' é muito melhor em filme, o livro foi uma desilusão.

(também li o "E Tudo o Vento levou" pelos mesmos motivos e ainda estou a recuperar da Scarlett ser uma pirosona com muito mau gosto)

Rita F. disse...

Eh, eh, eh, essa da Scarlett ser uma pirosona de muito mau gosto está bem vista... é que, de facto, é o que ela é, pelo menos no livro. No filme, também o é de certo modo, mas tem tanto estilo e tanta pinta que a gente esquece-se.

Anónimo disse...

O paciente ingles tambem e meljhor em filme q em livro

S. G. disse...

o ensaio sobre a cegueira é uma excelente adaptação, mas o filme não passa o livro em qualidade.

o amor em tempos de cólera é que nem para os calcanhares do livro

em regra os filmes são mais fracos que os livros, até porque não foram escritos para resultar bem na tela. o que não quer dizer que o cinema seja uma arte menor.

cheers

fado alexandrino. disse...

Vi (e tenho) o filme do Pasolini e tenho aqui "Os Cento e Vinte Dias de Sodoma" do divino Marquês.
Vi sair pessoas a meio da sessão e acho que ele conseguiu elevar ao paroxismo (linda palavra) um terrível livro.