segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Devia estar calada

Agora com a crise e as manifestações e esta falta de respeito por todos nós, "o povo", e quem se lixa é sempre o mexilhão e isso, tenho andado a pensar na prostituição, mas não como alternativa para mim, felizmente; é mais na prostituição como fenómeno social. Por acaso, ainda ontem vi um bocadinho do Estado de Graça, aquele programa da RTP, e apareceu um sketch com umas prostitutas a que eu achei piada. O Joaquim Monchique fazia de prostituta mais velha e usava joalheiras, de modo que parecia uma peregrina de Fátima, e eu fiquei a pensar para que é que o tinham caracterizado de peregrina de Fátima, as joalheiras não estavam ali a fazer sentido nenhum,  será que a ideia era fazer de prostituta religiosa?, e só hoje de manhã, ainda intrigada com o mistério das joalheiras, é que finalmente percebi a utilidade que este elemento protector de vestuário pode representar para uma prostituta. De facto, não são só os peregrinos de Fátimas que precisam de joalheiras, vestimenta que apresenta grande polivalência em actividades de índole vária, e eu sou tão parva que não percebi logo. Ri-me imenso, para atenuar. 
Continuando, e agora a sério. A prostituição sempre me fez impressão, como acho que é o caso em qualquer pessoa normal. Ainda me faz mais impressão ouvir pessoas que declaram com grande autoridade que só é prostituta quem quer, ou que "não é um trabalho digno", como recentemente ouvi. Não posso deixar de concordar que não é um trabalho digno, na medida em que eu não gostaria de ter este trabalho, mas ao mesmo tempo não considero que seja um trabalho indigno, ou por outra - as pessoas não se tornam indignas por ter este trabalho. Aliás, nem foi exactamente isto que eu ouvi, foi mais "é um trabalho que não dignifica". Pois. O que eu acho que não dignifica mesmo é ir no Seat Ibiza (ou Mercedes, ou BMW - uma vez vi uma entrevista a um travesti prostituto que dizia que não tinha nenhum cliente que andasse num Fiat Punto. É assim, as pessoas têm os seus gostos a nível de carros e a nível, vá lá, de gostos em geral), dizia, o que não dignifica é ir a um parque à noite - como diz o grande Herman a encarnar Nelo, "vá a um Campo Grande, a uma Cidade Universitária à noite e veja a quantidade de rapazes que se atiram a nós. Se calhar é para assaltar, não sei, que eu pego na pochete e ala, tumba, tumba, tumba, atravesso o parque e não dou conversa a ninguém". 
O que eu queria dizer, na verdade, não é nada daquilo que acabei de escrever. Mais do que dizer, queria reflectir sobre isto de uma pessoa, do alto do seu conforto de classe média, vir anunciar que a prostituição não é digna nem dignifica, ou alguém como eu, aconchegadinha no lar, em frente a um écrã de computador, vir para aqui pontificar sobre trabalhos dignos e indignos e pessoas de Seat Ibiza que vão para parques à noite. É estúpido.
E, por este post ser estúpido, retiro daqui a lição que queria retirar - até passarmos por determinadas situações, o melhor é estarmos calados, que é fácil falar de barriga cheia, como o meu pai está sempre a dizer. E por isso deixo um quadro de Salvator Rosa de que gosto muito, muito, muito, muito, e que sabiamente aconselha: fala melhor do que o silêncio, ou silencia-te.
Posto isto, já falei demais e vou silenciar-me. Acresce que também tenho de ir jantar.

4 comentários:

ruialme disse...

«O Joaquim Monchique fazia de prostituta mais velha e usava joalheiras»? Nunca tinha ouvido falar de alcoviteiras q põem profissionais da joalharia a render. Mas estamos sempre a aprender.

Rita F. disse...

:D Mas como é que aquelas coisas que se põem a proteger os joelhos se chamam? Não sei! eheheheheh. Diga-me, se faz favor. Agradecida.

ruialme disse...

JOELHOS - JOELHEIRAS; COTOVELOS - COTOVELEIRAS; OLHOS - OLHEIRAS

Maria Flausina disse...

O meu comentário vem muito fora do tempo, mas eu só cá venho quando o trabalho me deixa e venho sempre, porque vale a pena.
As prostitutas do Estado de Graça são dos meus sketches preferidos e este vídeo do Nelo foi o único que publiquei/partilhei/postei até hoje no Facebook. Não consigo vê-lo sem me rir a bom rir.