Detestei Domingos durante anos. Domingos de sol, esses, eram terríveis. Quando está de chuva tem-se a desculpa de poder ficar em casa porque não nos queremos molhar, mas o sol relembra-nos constantemente de que temos de sair, temos de aproveitar, é o último dia sem fazer nada, amanhã é segunda-feira, daqui a bocadinho são sete da tarde e a angústia aperta ainda mais, e etc. e etc.
E depois a pessoa tenta sair mas está tudo cheio por todo o lado, toda a gente teve a mesma ideia de "aproveitar", os cafés cheios, a praia cheia, os restaurantes cheios, se tentarmos ir ao campo também não há forma de encontrar um recanto onde não haja alguém a tentar fazer um piqueniquezito, tudo com ar muito aborrecido, um cão por ali a correr, que é o único que se deve estar a divertir, e pronto, não há hipótese. O único refrigério (bonita palavra) que fui encontrando foi mesmo ir a um museu, quando dava. Nem sempre dava.
Eu queixava-me de não valer a pena tentar sair aos Domingos, porque o mundo lá fora estava cheio de pessoas, mas esquecia-me de que eu própria era uma pessoa, e que da mesma forma que elas me incomodavam, eu incomodava-as também. Nada a fazer, o homem é lobo do homem e tal, como disse o Hobbes.
Ora acontece que hoje em dia finalmente percebi que não vale muito a pena a pessoa pensar tanto "no que concerne" aos Domingos. Quer dizer, não vale a pensa pensar tanto em geral. A pessoa pensa, pensa e normalmente chega a conclusões parvas.
De modo que agora saio aos Domingos, sem pensar muito. E pronto.
De modo que agora saio aos Domingos, sem pensar muito. E pronto.