segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Livros fáceis e difíceis

Meu Deus, dois meses e tal sem escrever. Ah, vida, erros meus, amor ardente. São estes os culpados, já dizia Camões.
Bom, passando ao que interessa. O Guardian tem uma lista daqueles que são considerados os livros mais difíceis de ler, com base nos critérios que a seguir se enunciam: "their length, or their syntax and style, or their structural and generic strangeness, or their odd experimental techniques, or their abstraction". 
De modo que, na mesma lista, figuram obras como A Fenomenologia do Espírito, de Hegel, e To the Lighthouse, da Virginia Woolf, entre outros. Curiosamente, o Ulysses não consta, embora Finnegan's Wake lá esteja. Nunca li nem um nem outro, mas não duvido que sejam dificílimos. 
E porém. Isto de um livro ser "fácil" ou "difícil" é uma coisa estranha e ambígua, especialmente se atentarmos apenas a critérios formais, como o são essas entidades amaldiçoadas tipo "sintaxe", "estilo", "técnicas". A abstracção também é traiçoeira. Um dos livros mais fáceis (e piores) que li, The Awakening, da Kate Chopin, tinha alguma abstracção. A cena final até é digna de ser descrita como condignamente abstracta. Pelo menos simbólica, vá. 
A minha ideia principal é que o livro normalmente apelidado de "fácil" é enganoso, porque na verdade não é fácil, é difícil. Ler Paulo Coelho é difícil porque é seca. Conclusão: os livros de Paulo Coelho são difíceis. Também li uma vez um livro da Rita Ferro e considero que foi dos mais difíceis que li, porque era tão chato que não consegui acabar. Resultado: os livros de Rita Ferro são difíceis. 
E venham agora dizer que os meus exemplos são tão lugares-comuns que até faz impressão, olha esta parva a dizer mal de Paulo Coelho e Rita Ferro e Nicholas Sparks, que exemplos tão estafados, só lhe falta incluir a Margarida Pinto Rebelo. Desta, não li os livros, mas li uma crónica(zeca) que andou por aí a circular sobre  as "gordas" e devo dizer que foi muito difícil de ler. Foi penoso, digamos. Mas dou outros exemplos - sobre um dos livros mencionados na lista, To the Lighthouse, posso comentar porque li, e poderei talvez dizer que é difícil, mas não necessariamente pela sintaxe, ou abstracção, ou experimentação técnica. Achei difícil porque não gostei muito, penso que foi mais isso. A nível técnico, não considero que haja algum leitor que leia este livro e seja incapaz de perceber pelo menos alguma coisinha do que lá se passa - não desmerece em nada a obra, até a engrandece, penso; a conclusão a que quero chegar é que um livro não é fácil ou difícil pelos seus aspectos formais, tirando algumas excepções como o Som e a Fúria - um livro que dá vontade de ler mas que, pelo menos até chegarmos mais ou menos a metade, cria resistência por ser difícil. O mesmo se poderá dizer de Waste Land, propositadamente escrito para ser "difícil", e de certa forma é - mas acaba por não ser, se insistirmos e conseguirmos decifrar o código.
E de livros fáceis e propósito de códigos, o que podemos dizer? O Código Da Vinci não me custou a ler. Até li bastante bem e achei divertido (exceptuando o final, que é muito preguiçoso e estúpido). O homem (Dan Brown) pode ser um mentiroso ganancioso, mas o livro lê-se bem. Este sim, é um livro fácil.
Os livros da PD James, que eu adoro, são fáceis de ler, e não é por isso que são maus. À partida, qualquer bom livro devia ser igualmente um livro fácil porque atrai o leitor - e daí eu não concordar necessariamente com os critérios formais que definem livros fáceis e difíceis.
E foi isto que eu consegui arranjar para, ponto um, voltar a escrever, ponto dois, distrair-me do massacre que ocorre no mundo e no país, que me deixa tolhida e incapaz de fazer coisas. Como quero voltar a fazer coisas, voltei a escrever aqui.
Obrigada e boa continuação. Boa noite e boa sorte. Até a uma próxima. 

4 comentários:

Paula disse...

Fiquei triste. Não gosto de Paulo Coelho, mas um dos meus livros favoritos de sempre é "Os Filhos da Mãe" da Rita Ferro.

Anónimo disse...

cheguei a pensar que te tinhas finado
susana

p.s. - devo ser um robô porque não acerto no raio das letras...

fado alexandrino. disse...

Até que enfim.

bea disse...

Penso que não deve parar. escreve bué bem.

Portanto...nada de se finar ou lhe darem crises de escrita por causa do estúpido mundo.