Estou a ler o Brideshead Revisited. Ainda estou no princípio e nunca vi a série de televisão, que passou quando era pequena demais para me lembrar, portanto não me contem nada do enredo, por favor. Só sei mesmo que Brideshead é uma casa espectacular, que há uma família rica, que há um narrador fascinado pela mesma família e por um magnético Sebastian e pronto. E que a grande protagonista do livro é a casa, razão pela qual estou há uns tempos para ler esta obra. E que é tudo muito aristocrático e coiso e que depois vai tudo para a guerra. Fim.
Mas não é a casa que me traz aqui. Nas primeiras páginas de Brideshead Revisited, estão o narrador e o Sebastian em Oxford, e queixam-se da maçada que é ter a universidade infestada de mulheres, e eventos sociais só para mulheres, e mulheres a tomar chá e a almoçar, e ai que chatice, vamos sair daqui para o meu palácio feudal uns diazitos até elas se irem embora. E assim o fazem, efectivamente.
Há uma certa literatura (tosse - DH Lawrence - tosse) que tem esta mania irritante, esta mania quiçá misógina de que as mulheres só servem de bibelots foleiros que quando saem da caixa são uma praga, e mais vale a gente dar-lhes uma cotovelada, parti-los e fingir que foi sem querer para nos conseguirmos livrar deles.
Se não estou em erro, no final de Women in Love, a personagem de Rupert apercebe-se de que a sua relação com a namorada, ou mulher, não me lembro, será sempre insatisfeita e imperfeita porque a verdadeira relação perfeita existia na união com o seu amigo do sexo masculino, que morreu (não me lembro do nome dele). Não estamos a falar aqui de dois homens apaixonados, nem de nenhum subtexto gay (quer dizer, se calhar este subtexto existe, mas não é necessariamente o mais relevante) - estamos a falar da tal ideia, quanto a mim irritante, de que as mulheres são engraçadinhas mas em moderação, ao passo que a amizade entre dois homens, a relação entre dois homens, é uma camaradagem tal, uma união tal, que nada se equipara a ela e que qualquer mulher não passa de uma agradável distracção para tirar a barriga de misérias, como se costuma dizer. É a filosofia, igualmente irritante (reitero de propósito), dos bros before hoes. Ou seja, toda a nobreza está nos homens, e essa nobreza de sentimentos é negada às mulheres.
Tudo bem.
E porém, penso se não será possível que um homem tenha os seus 'bromances' e que estes o façam feliz; e que, ao mesmo tempo, as mulheres sejam vistas de modo diferente, mas em igual plano. Equiparadas, portanto.
Não, não, mas não. Um clube de rapazes é sempre um clube de rapazes, e assim eles podem ouvir os Red Hot Chilli Peppers todos juntos e chutar a bola ou seja lá o que for que os rapazes fazem. As raparigas são peganhentas, como dizia o Calvin (do Calvin and Hobbes, bem entendido).
Que parvoíce. Nem sequer consigo escrever parágrafos coerentes, de tal forma isto me desorienta. E assim se explica o meu apego às irmãs Bronte, todas mulherzinhas, que escreviam sob uma perspectiva feminina sem antagonizar os homens. Elas até queriam casar e tudo, e a Charlotte casou mesmo, não com o homem de quem ela gostava, mas enfim, foi o que se pode arranjar.
O que vou dizer a seguir é uma generalidade grosseira, mas é mais fácil uma rapariga encontrar coisas em comum com outra rapariga, os livros, as princesas, as Barbies, o cor-de-rosa, e o mesmo se passará com os rapazes, os carrinhos, o azul, o Homem Aranha. Culturamente, tendemos a orbitar em volta das similitudes que encontramos nos outros. Mas a piada da vida é conseguirmos entender-nos com a diferença, com o estrangeiro, com a oposição (seja ela masculina ou feminina). Daí eu não acreditar em 'bromances' nem em bros before hoes nem em hoes before bros. Expressões detestáveis, aliás. Daí o DH, de alguma forma, me agastar. Embora eu adore o DH. Daí eu me ter irritado com o tal episódiozito do Brideshead Revisited.
Pronto, é isto. Boa noitinha.