terça-feira, 29 de novembro de 2011

Perder em grande

Cartier-Bresson fala do momento decisivo, aquele que se consegue capturar na fotografia e que depois desaparece para sempre. O que resta é a memória, e a fotografia. Como dizia o robot louro e melancólico naquela cena final do Blade Runner, "all those moments will be lost in time like tears in the rain. Time to die".
Isto é coisa da pesada, realmente, e que bonito que é, ao mesmo tempo.
Não me irrita propriamente, mas há qualquer coisa que sinto amargurar quando penso nisto, nestes momentos perdidos. Porque Cartier-Bresson, ao falar do momento decisivo, sabe também que a fotografia é uma pobre reminiscência desse momento, como sentir um cheiro qualquer que nos é familiar e que teima em afastar-se, e nós a abrir as narinas desesperadamente, a farejar que nem cãezinhos, a tentar reencontrar o odor. 
E nunca conseguimos recuperá-lo totalmente. Daí eu concordar sempre, cada vez mais, com o Woody Allen - não temos memórias, perdemos memórias. Ou por outra, a memória é apenas um farrapo do que perdemos. 
Perdemos sempre tanto. 
A vida é lixada - até os momentos em que pensamos que estamos a ganhar são, no fundo, momentos perdidos.
Olha, time to die, como dizia o outro. Mas que esse dia esteja longe, que até lá ainda há muito a perder, e eu faço questão de perder em grande. 

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