quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A iluminação da classe média

Há um filme, o Anónimo, recém estreado em Portugal (não vi) que, ao que parece, defende a tese, já muito discutida no passado, de que Shakespeare não foi o verdadeiro autor das peças, mas antes um aristocrata qualquer. Dizem alguns que seria até a Rainha, a Isabel I, a autora das obras (esclarecendo-se assim o controverso homoerotismo dos sonetos - ai, que conveniente). 
Eu percebo a perplexidade. Como é possível que um da arraia miúda, nem sequer exactamente um burguês, uma espécie de povo um bocadinho mais nutrido, educado em escola pública, tenha escrito a grandiosidade literária que é a obra de Shakespeare. É impossível. Um Hamlet, especialmente um Hamlet escrito no século XVII, é coisa de majestade.
E é mesmo. De modo que eu acredito que tenha sido a Rainha a escrever o Hamlet e o Measure for Measure - pelo menos estes dois. As outras peças, enfim, qualquer um podia ter escrito, desde que soubesse Grego ou Latim, que por acaso o Shakespeare aprendeu na escola. Que educação tão precária.
O talento, quando nasce, não é como o sol, porque é só para alguns. E, tal como a justiça, também é ceguinho. Não quer saber se a pessoa tem ou não dinheiro para comprar o que lhe fica bem. 
E isto é uma coisa muito difícil de aceitar. Cada um com a sua cruz, não é.

2 comentários:

Esquilinho disse...

ahahaha! Estou mesmo a ver a Isabel I, entre reuniões com conselheiros, a escrever peças e sonetos! :D

Rita F. disse...

Mas deve ter sido mesmo assim.
:D