segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Das místicas e da falta delas

O filósofo J.L. Austin apontou uma situação muito pertinente (isto quanto a mim) no seu How To Do Things With Words: muitas vezes, mudamos a nossa vida com a linguagem, porque agir com a língua que se fala é tão ou mais importante do que agir fisicamente. 
Isto para dizer que hoje abri a caixa do correio e estava lá uma revista chamada "Mística". Achei estranhíssimo, e que no mínimo o pessoal ensandecido do New Age me andava a perseguir, sabe-se lá porquê. Mas como é que esta gente descobriu a minha morada?!, pensei eu.
Acontece que descobri, após um olhar mais minucioso à revista, que se tratava da Mística, sim, mas do Benfica. Era a revista do Benfica, não o pessoal ensandecido do New Age, crianças índigo e hortelã pimenta e isso. 
Havia ali qualquer coisa naquela situação que pedia mudança, transformação. Senti que, seguindo o pensamento de Austin, eu deveria ter tido qualquer reacção verbal que instituisse um novo estado de coisas - ah, que o meu dia melhorou tanto, ah que vou ler a revista de uma ponta à outra, ah, que a mística da revista vai transferir-se para a minha pessoa, que tão precisada dela (da mística, leia-se) está. 
Mas não. Eu não disse nada porque a minha vida continuou igual. A revista permanceu na caixa do correio, já que eu estava muito carregada e não me apeteceu ter de arranjar um dedinho onde ela se pudesse encaixar.
Os benfiquistas acham que o Benfica muda a vida deles, só por cantarem o hino. Eu não. Talvez não seja benfiquista pura. 
Reservo o poder da linguagem assim para outras situações. É que é muito difícil deixar a mística entrar na nossa vida. 
Mas força, Benfica. 

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