sexta-feira, 27 de setembro de 2013

'Death Comes to Pemberley', de PD James - um pequeno apontamento.

Bom. Já escrevi que gosto muito de PD James e dos seus livros entusiasmantes, e que aprecio a forma como ela respeita as suas personagens, aprofundado-lhes a psicologia, coisa que nem sempre acontece nos romances policiais. A PD decidiu, em 2011, escrever uma sequela a Pride and Prejudice, de Jane Austen, já que é grande admiradora desta escritora, e até aqui tudo bem. A premissa é, então, a de que acontece um grande e horrível crime em Pemberley, o casarão de Mr Darcy e Elizabeth, já depois destes se terem casado e viverem em felicidade matrimonial.
Antes de ler o livro, o receio que tinha era que este 'Death Comes to Pemberley' resultasse num esforço de imitação algo desajeitado. Depois de ler o livro, posso confirmar que resulta num esforço de imitação algo desajeitado. Nada a apontar ao enredo - a PD tece uma trama excelente, um crime enredado, e a gente entretém-se a ler. O estilo de escrita é que é difícil de digerir - um inglês propositadamente formal, de vocabulário propositadamente antiquado, formas de tratamento propositadamente rebuscadas (a palavra-chave, aqui, é "propositadamente", só para que fique claro; é que, quando a escrita nos parece propositada, estamos perante um mero exercício de estilo sem grande criatividade, que é o que se passa com este livro). A PD quer, como se compreende, tentar escrever como a Jane Austen para dar um tom realista ao livro, já que não faz sentido que o Mr Darcy e a Lizzie falem com um casalinho que vai ao centro comercial comprar um plasma. No entanto, o problema é que a PD não é a Jane Austen, e isso, tristemente, nota-se. De modo que toda a escrita é um esforço demasiado, quase absurdo, e é pena, porque acaba por estragar o resto.
A mimesis, dizia Aristóteles, é mais do que imitação, é representação (e, logo, criatividade também). Mas eu acho que a PD, com este livro, esqueceu-se ligeiramente deste conceito e ficou-se apenas pela imitação que, como todos sabemos, não aproveita a ninguém. Mas hei-de continuar a ler tudo o que escreve, e nota apenas para dizer que tenho curiosidade em saber como ficou a tradução portuguesa, nomeadamente se mantém este ar forçado, encafuado, do original - se alguém tiver lido, comentariozinho, assim o ajude engenho e arte. Obrigada e até a uma próxima. 

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