Descobri na Slate este mini-documentário bonito e triste sobre os perigos devastadores de enviar mensagens enquanto se conduz. No entanto, não é só sobre isso. Como diz um dos entrevistados, responsável pela morte de uma família, é sobre o poder da escolha. Escolher, tomar uma decisão e viver com as consequências.
Na maior parte das vezes, escolher é inofensivo, e ainda bem. Não conseguiríamos viver de outro modo. Mas também há escolhas que são apenas aparentemente inofensivas e mudam-nos a vida de um momento para o outro.
E hoje é tão fácil estarmos distraídos. Há tanta coisa para nos preencher a mente tão aparentemente inofensiva. Lembro-me de ver uma rapariga nova de auscultadores nos ouvidos, daqueles enormes e giros, da moda, a dar um passo em frente para atravessar a estrada. Acontece que ela estava em Londres, e acontece que estava em Tottenham Court Road, uma rua feia e suja em pleno centro da cidade, em plena hora de ponta. E acontece que alguém a puxa violentamente pela camisola e a obriga a recuar, deste modo evitando, por uma nesga, um enorme autocarro de dois andares que acelerava pela longa rua, já que os semáforos estavam a vermelho para os peões. Eu ia para o metro, nem sequer queria atravessar a porcaria da rua, mas ainda vi a rapariga a chorar, descontrolada, provavelmente a pensar no que seria dela se ninguém a tivesse ajudado. A alma caridosa que a tinha puxado já se tinha posto a milhas, suponho eu porque descargas emocionais são coisas pior que o pecado num sítio como Londres, e eu até percebo.
Esta rapariga também tomou uma decisão, também fez uma escolha. Escolheu pôr auscultadores, escolheu atravessar a rua. E alguém escolheu tomar atenção e ajudá-la.
Escolhemos sempre, mesmo quando parece que não, mesmo quando parece que estamos apenas a deixar que a vida passe e que não temos nada a ver com isso. Gostamos de chamar a isto coincidências, mas interrogo-me se as coincidências existem, ou se também elas são o resultado das nossas escolhas.
Sim, parece-me que escolhemos sempre. Mesmo quando a culpa não é nossa.